segunda-feira, 18 de novembro de 2013

CIRCO DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL



O doente sentiu-se pior na manhã de domingo e foi levado a um serviço de emergência. Segundo informações do paciente o atendimento era precário desde a recepção.

Enquanto procurava tranquilizá-lo, uma funcionária relatou que não seria possível verificar a pressão arterial devido ao uso da sala destinada pra este procedimento. Não havia também, condições para realizar eletrocardiograma devido à falta de luz no hospital.

Contou que não foi examinado por médicos, que estavam ausentes ou ocupados em outras atividades; referiu que faltavam materiais básicos como estetoscópio, bem como não se dispunham de pinças e agulhas; Raio-X igualmente não era disponibilizado às pessoas que recorriam àquele serviço.

Notou que todos eram recebidos de forma tranquilizadora, mas tinham a mesma assistência precária. Em uma simples comparação, desabafou que seria mais fácil descer as Cataratas da Foz do Iguaçu de bicicleta do que conseguir um atendimento com dignidade naquele ambiente.

Assistência médica seja emergencial, de internamento clínico ou cirúrgico, na América Latina, é precária em todos os ambientes desassistidos por melhores convênios. E o Brasil, maior país do continente, não foge à regra. A situação é crítica nos locais de extremos índices populacionais, pequenos ou grandes centros.

Na primeira situação, de menores concentrações humanas, se recorre à ambulancioterapia, transferindo os pacientes para cidades satélites com melhores recursos disponíveis. Nos maiores aglomerados humanos, os doentes são despejados em corredores hospitalares, aguardando vagas e morrendo na esperança de um deslocamento adequado.

Os recursos destinados às classes menos favorecidas no nosso meio, em que pese à demagogia dos governantes, patina em níveis vergonhosos de recursos à saúde. Isto se reflete nos péssimos pagamentos aos profissionais, tabelas de procedimentos, e enganosamente os maiores investimentos públicos só acontecem em períodos pré-eleitorais.

Dispõem-se de condições de primeiro mundo, nas maiores cidades do país, só em hospitais privados, com acesso fácil aos grandes empresários e especialmente aos políticos de primeiro escalão. Em compensação temos os melhores estádios de futebol do planeta; passarelas de escola de samba que nos brindam com os maiores espetáculos abertos da Terra. Pão e circo!

Na realidade, o que melhorou a saúde do povo brasileiro foi atenção dos governos nas décadas anteriores, através das campanhas contínuas de vacinações públicas; houve erradicação e controle de doenças como as próprias da infância, ao nível de primeiro mundo, como sarampo, coqueluche, difteria e poliomielite; diminuição dos casos e melhores condições de tratamento da Aids; declínio da lepra, raiva humana, tétano, rubéola congênita, doença de Chagas e febre tifoide.

Sexta economia do globo, a sociedade apela para aplicação de dez por cento dos valores do produto interno bruto da nação aos menos favorecidos. Porém a velha política romana da comida e festa ainda é predominante. Futebol, carnaval e “cartão de vale tudo” são prioridades. Mas o Brasil precisa de mais respostas na saúde pública da atualidade.

Em Junho deste ano, a população brasileira indignada foi pras ruas. O estopim era o abusivo aumento das tarifas do transporte público, mas na realidade todos os segmentos da sociedade tinham queixas. E a saúde pública precária reclamava também por melhor atenção.

Não faltaram manifestações revoltadas do povão, nos ambulatórios de grandes hospitais como o Sírio-Libanês. Queriam que a assistência digna se estendesse aos “matadouros” do SUS.

Políticos no Brasil, como sempre, prometeram providências imediatas. A resposta populista concertaria tudo com a importação de mais médicos. Afinal a culpa dos problemas, de acordo com o governo, era da falta de profissionais. Vale a comparação. Pouco importava a qualificação, quanto mais artistas no picadeiro, mais público satisfeito. Não importava se os trapézios estivessem rebentados, nem que faltassem redes de proteção ou que estas fossem estragadas.

Os mais importantes eram os palhaços, equilibristas e ilusionistas. E com entrada franca. Quanto mais, melhor, no centro do circo e na plateia. Mais profissionais sem qualificação, fazendo de conta que estão atendendo, menos queixas de atendidos que recebem receitas, pensando que já solucionaram os problemas.

E o povo agora dispondo de mais médicos importados, com cartões de cesta básica de alimentação - mesmo sem acompanhamento social decente - vai reclamar do que? Se tivesse informação adequada, quem sabe o nível de conscientização fosse outro. Porém, não há interesse em melhorar o grau de instrução; só alfabetização básica para não chocar a opinião pública mundial.

Entretanto, se algum benefício imediato acontecer com a presença de mais médicos, é ilusório e demagógico que a situação seja prontamente resolvida. A distribuição de profissionais recém-formado nas regiões carentes poderia até ter impacto positivo.

Porém ninguém parece renunciar ao conforto de grandes cidades; em presença de complicações, o trabalho isolado do médico não é suficiente. Necessita de equipe treinada e unidade bem equipada. Não há leitos disponíveis para todos internamentos.  Faltam também estruturas de transporte e hospitais referência para os casos mais complexos.

Finalizando, a atual saúde pública brasileira, ambulatório e hospitalar é um grande circo. No país emergente do BRICS, todos, atendentes e atendidos, brincam de saltimbancos, ilusionistas, malabaristas, equilibristas, trapezistas e palhaços; no picadeiro com as receitas, faltam equipamentos, remédios básicos e atendentes; salário curto e baixo nível cultural convivem com saúde precária e desassistida. Mais fácil descer as Cataratas da Foz do Iguaçu de bicicleta que receber atendimento digno nestes ambientes.       

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Hoje, Menos Fome Com Betinho, Mas Ainda Sem Saúde e Educação


Filho e cachorro com ossos à mostra, revirando lixo. Choro de fome. Peito seco, sem leite. Magreza enrugada, com olhos fundos. Miséria sem esperança...Crianças e guaipecas famintos disputando restos de comida podre. Lixão fedendo no sol quente. Disenteria solta, feito torneira estragada... Vida sem vida, lixão do Rio de Janeiro, 1990; mulheres com lenço sujo na cabeça e pés no chão. Suor, piolho e sarna disputando espaço no fedor do corpo cansado. Mundo sem bandeira, nem cores. Se existisse, seria trapo, comida pra bicho ou tapava corpo pelado...
Do outro lado do nada, tudo. Muito fácil, com restos de comida jogados no lixo quase limpo. Outro mundo, sem fome. Sobra de pão, diferente, colorido, cheiroso. Gente com roupas de todas cores, imitando flor. Mulheres com caracol de pedras no pescoço e braços. Couro de animal bem tratado e curtido feito bolsas, igual ao que cobriam os pés.
Nesta época, quase fim do século passado, poucos se preocupavam com os diferentes mundos paralelos, no mesmo Brasil. A antiga promessa de 1889 da proclamada república brasileira pra corrigir as diferenças sociais, a miséria, a fome, não tinha sido cumprida.
Prometeu-se na campanha pela República, um fim das cópias de extravagâncias europeias em Petrópolis, cujo nome homenageava o Imperador. Analfabetismo, distribuição de terra e renda seriam atendidos no novo modelo de governo que acabava com a monarquia. Fim também de condes, barões, marqueses, reverências e privilégios.
Porém, pouco mais de cem anos e tudo igual na utopia republicana. A fome se multiplicava em terras improdutivas; coronéis do açúcar e café só trocaram de nomes. Miséria continua.
Um século do novo regime se passou com promessas não cumpridas. Em 1990, uma multidão no Rio, com Betinho à frente, criava a Ação e Cidadania contra a Fome, Miséria e pela Vida. Mais um nome perdido ou mais promessas?
Traços de doença crônica estampados, Betinho ou Herbert José de Sousa, com ficha corrida contra a ditadura brasileira, andou pelo mundo no exílio; reforçou, porém, conceitos de democracia, incubando uma criação de movimentos pelos excluídos.
Embrião de esperança social contra a fome se espraiava, subia morros, descia ladeiras, corria junto a esgoto a céu aberto, alcançava a região da seca nordestina...Menos fome, mais respeito. Esperança pro filho franzino e ranhento; quem sabe, escola pro outro, desdentado...
Betinho integrou forças políticas, mas a luta pelo social deixou a grande marca. Das ideias nasceram projetos, realizações concretas. A miséria não acabou, mas diminuiu.  Encontrou solidariedade em cartões assistenciais de sucessivos governos.
Entretanto abusos populistas recentes, com modelos de assistência vale tudo em troca de votos, deturparam a inspiração de Betinho. Mesmo assim, a boa intenção criativa foi válida.
Porém, além do combate à fome, democracia e cidadania têm muito espaço a ser conquistado “nesta nova República pós 1988”. O caminho correto é a obediência aos direitos constitucionais: Saúde e Educação. Grandes nações como Coréia do Sul, Japão e Alemanha, por exemplo, encontraram há muito tempo a rota certa.

Panelas se encheram mais, barrigas também. Hoje, menos desnutrição e lixões. Valeu o trabalho de Betinho. Franzinos, ranhentos e desdentados, porém, merecem ainda mais atenção. Comida, Escola e Saúde é o trio de maior prioridade que o lema positivista de Auguste Comte, Ordem e Progresso, plantado no verde louro e no amarelo ictérico de nossa bandeira “republicana”. 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Dia da Consciência Negra


Mortos-vivos aglomerados na embarcação-presídio. Fome, sede, dor muda, o mar sepultava os abatidos pelas doenças. Obrigações severas matavam os enfraquecidos. Os mais fortes, quase cadáveres, resistiam sem queixas... Corria o ano de 1549. Os primeiros navios da vergonha chegavam ao solo brasileiro... Ondas engolindo sofrimento, submissão cega, aceitação imposta, rebeldia oprimida...
 A rica colônia seduzia o Velho Mundo. “Em se plantando nela tudo dá”, na carta de Pero Vaz de Caminha, os primeiros escritos sobre a abençoada terra descoberta. Café, cana de açúcar, algodão, frutas exóticas, pau brasil, ouro, enfim tudo à vontade.
 Mas precisava de muita gente para explorar o que pudesse e sem custos. Os índios, ah os índios! Nunca! Mesmo os dóceis, que viviam da caça e pesca insolentes, preguiçosos, jamais seria uma mão de obra fácil para tanta riqueza...
 Melhor mesmo trazer gente ignorante, sem alma; corria solto o boato que isso era confirmado pelo o Papa... Acostumados ao trabalho, quase sem custo, comprados nas feiras, valiam menos que animais; comiam o que sobrava das fartas mesas dos brancos, não precisavam de nenhuma educação...  
Porém, um grito mudo de liberdade perdido pela pobre gente, reuniu pouco a pouco, os que conseguiram fugir do holocausto colonial. Não aceitavam o cristianismo e se concentravam em locais de difícil acesso. Escondidos nas matas, selvas, morros, seus núcleos formavam aldeias, nos chamados “quilombos” em todas as regiões do Brasil. A economia era de subsistência. 
 Escapando também dos engenhos de açúcar de Pernambuco, em 1600, os negros se juntaram em Palmares - terra das palmeiras - por quase 100 anos. Quilombo dos Palmares reunia escravos fujões, brancos pobres, índios e mestiços, com vinte a trinta mil pessoas... Precisava ser aniquilado com urgência! Portugueses expulsaram com facilidade invasores holandeses do Nordeste em 1654, mas não conseguiram prender os negros fugitivos...
No meio dos rebeldes, descendente de guerreiros angolanos, em 1655, correndo nas veias a genética da resistência, nasceu seu mais expressivo representante: Zumbi – a força do espírito presente – reunia energia, coragem e inteligência de dirigente militar.
Ainda garoto foi preso por soldados em perseguição aos quilombos e entregue aos padres. Aprendeu com facilidade línguas, mas não conseguiu trair suas origens: fugiu com 15 anos de idade e voltou aos Palmares. Foi o mais poderoso líder da resistência escrava.
Coube a um bandeirante paulista, Domingos Jorge Velho, o trabalho inglório de juntar nove mil homens, armados com canhões e dominar, depois de quase cem anos, a rebeldia negra dos quilombos. Zumbi é morto em 20 de novembro de 1695, e o gemido escravo voltava com força, mas mudo faminto, sufocado, reprimido, dominado, triste...
E assim milhares de navios escravos abasteciam as prósperas fazendas brasileiras. Trabalhavam de sol a sol, comiam pouco e rendiam muito a custo zero... A colônia era  tranquila produtora de café e cana-de-açúcar para o mundo, até que de repente, Napoleão Bonaparte muda toda esta história... Põe a família Real portuguesa a correr e D. João VI, em 1808, chega fugido pra colônia com toda a nobreza a bordo.
O Brasil nunca mais seria o mesmo. Distribuição de títulos de condes, barões, duques, marqueses aos ricos produtores que se multiplicavam, enchiam os cofres da Coroa em troca de títulos nobres. Mas tudo isso exigia mais escravos, baratos, fortes, sem custo...
A chegada da família Real ao Brasil encontrava um clima de prosperidade no campo, de séculos de confortável aceitação escrava. Porém aos poucos, fervia o espírito abolicionista no mundo; a maçonaria brasileira foi a representante mais combativa da exploração negra.
Entregue aos cuidados da integridade moral do paulista José Bonifácio de Andrade e Silva, D. Pedro II atinge a maioridade física, emocional e humanista, com as sementes bem plantadas do ideal libertador. À sua filha, Princesa Isabel coube a assinatura em maio de 1888 da Lei Áurea, com a abolição total da escravatura brasileira.
Entretanto a libertação para muitos passou a ser um grande problema: analfabetos, sem nenhum trabalho, com pouca comida, sem condições de competir em nenhum mercado de trabalho. Para onde ir?
Em um recente anti-herói romanceado criou-se Macunaíma, preto retinto, filho de índio, rebelde, que representava o povo brasileiro; mergulhava a dupla preguiça estampada nas profundezas amazônicas; critica o autor, a miscigenação étnica (raças), religiosa (catolicismo, candomblé) e cultural. Em metamorfoses constantes, o índio negro vira animais e enfim se torna branco... Um culto ao racismo e à necessária eugenia brasileira...  
O preconceito da nossa história esqueceu-se de sua raiz e chegou a trocar a cor da pele de heróis negros nacionais como Aleijadinho e Machado de Assis; líderes pretos em todas as áreas foram silenciados e por muito tempo esquecidos. Somente em janeiro de 2003 foi criado oficialmente no Brasil o Dia da Consciência Negra, um resgate da cultura ofuscada.
Mas Zumbi ressurge do Quilombo dos Palmares, no Dia da Consciência Negra, revivido em 20 de novembro, quando seu corpo foi abatido. Tal qual a lenda que o imortalizaria, deixando seu código genético da herança da cor e resistência... Coube ao pintor alemão Rugendas retratar, nos desenhos a bico-de–pena, as cenas do preto oprimido no cotidiano colonial...
Dos sons abafados dos navios negreiros renascem expressões na música de Pixinguinha, Clementina de Jesus e Jamelão... Das letras proibidas do alfabeto misturam-se a hiperpigmentação da pele com a imortalidade literária de Ernesto Carneiro Ribeiro e de Machado de Assis... Das negras queixas reprimidas, ressurge a informação jornalística de Lima Barreto, Cruz e Sousa...
Dos abalos emocionais sofridos no holocausto, o psiquiatra negro Juliano Moreira interpreta a dor psíquica... Do corpo judiado, sem direito a descanso, renasce Pelé, o atleta do século... Semelhante às limitações físicas impostas aos escravos rebeldes, Aleijadinho, cor que a história esqueceu-se de registrar, modela em silêncio obras-patrimônio da Humanidade...   
Zumbi a força do espírito presente- tido pelo Quilombo de Palmares, como eterno e imortal, renasce como Fênix, não das cinzas, mas das sofridas galeras africanas, lembrado no Dia da Consciência Negra pela sua força, coragem, imortalidade e nobreza de seus descendentes.    

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Uma Nova Doença no Brasil



A população infantil representava, há cerca de quarenta anos, a base da pirâmide social, hoje substituída pelos idosos.  Porem há algumas décadas o problema principal com nossas crianças, em termos de alimentação, era a desnutrição crônica.  Entretanto houve uma concentração de esforços tanto da parte de ações governamentais, como de ONGs e organizações religiosas na recuperação nutricional dos pequenos pacientes.
Em contrapartida, esse trabalho resultou numa mudança rápida do perfil nutricional brasileiro. Os países desenvolvidos levaram cerca de 100 anos para atingir esta mudança. Um fator decisivo foi também, em função dos meios de comunicação de massa, uma “americanização” dos hábitos alimentares brasileiros, com um consumo de produtos de alto valor calórico, gordura e sal. Nos EUA, 50% da população estão acima do peso e 16% são obesas, sendo que hoje a obesidade é considerada uma doença crônica não transmissível (DCNT), de acordo com a Organização Mundial de Saúde.  
Uma vida mais saudável exige uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e gorduras, bem como a prática de atividades físicas. As crianças no Brasil atualmente brincam menos, passam mais horas assistindo TV e videogames, tomam mais refrigerantes do que sucos naturais e comem mais alimentos gordurosos, doces e guloseimas.
Não é apenas um problema estético, causador de bullying no convívio do ensino fundamental. Vários problemas de saúde como o diabetes tipo 2, hipertensão e cardiopatias, com aumento de colesterol e triglicerídeos já são constatados na infância.  
Convivemos paralelamente com doenças que não conseguimos combater como hanseníase, dengue e também com outras de países desenvolvidos, como a obesidade infantil; cerca de 40% de nossos pequenos pacientes estão acima do peso e 15% são obesas, conforme a Sociedade Brasileira de Pediatria. Mas devemos tomar muito cuidado porque é na infância que já se define o número de células gordurosas de um adulto. Ou seja criança gorda  é sinônimo de adulto também gordo. 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A Morte nos Corredores dos Hospitais

          


          Segundo o Artigo 6° da Constituição Federal do Brasil, a saúde é um direito inerente a todos os brasileiros. Desde então tornou-se um “Tendão de Aquiles” para os governantes. Até então, as classes menos favorecidas eram atendidas em hospitais filantrópicos na categoria de “indigentes”, como uma conotação de caridade social.

O SUS (Sistema Único de Saúde) deu aos usuários um status de convênio, com promessas de amplos e seguros atendimentos em todos os hospitais brasileiros. Mas a grande realidade nacional não coincide com os direitos assegurados. É verdade que excepcionalmente intervenções consideradas de alta complexidade, que arcam com valores diferenciados para profissionais e procedimentos sofisticados, podem ocasionalmente ser disponibilizados pelo SUS.

A realidade porem é muito diferente para as necessidades básicas de toda a população humilde. Se mesmo quem dispõe de um convênio particular pago e muitas vezes caro, é obrigado a entrar em filas de espera nos consultórios médicos de até alguns meses, que dizer de pobres contemplados somente com cartões do SUS? Levantam de madrugada para engrossar filas na esperança de uma atenção do profissional médico para um atendimento de rotina e morrem em corredores hospitalares aguardando vagas para internamentos.

As recentes manifestações nas ruas no Brasil refletem um grande descontentamento com os serviços públicos, especialmente na saúde. Procura-se desviar a atenção das necessidades básicas com a promessa da importação de milhares de médicos cubanos para a população carente. Além de terem uma formação suspeita, que adiantaria se fossem competentes, se inexistem condições primárias hospitalares de trabalho neste país?

Se a medicina de Cuba fosse tão promissora, porque a presidente Dilma e o ex- presidente Lula não trataram seus cânceres naquele país como o fez o finado Hugo Chávez? Será que aqueles profissionais vindos para o Brasil só servirão para tratar a população tantas vezes desfavorecida e não para os nossos governantes? Porque se gastou bilhões de dólares em “pão e circo” na imatura construção de estádios para as Copas, quando Saúde e Educação neste país são as piores do mundo? A resposta está sendo dada nas ruas e na vertiginosa queda de popularidade da “segunda mulher mais poderosa do planeta”.    

  De quem é a responsabilidade? Somos a quinta potência econômica mundial, uma economia em crescimento e com uma agroindústria altamente competitiva. Mas a nossa infraestrutura continua sendo de terceiro mundo, educação e saúde pública decadentes, miseráveis; de primeiro padrão só os hospitais de grandes centros ao alcance do bolso dos maiores empresários ou governantes.


Somente quando Saúde e Educação, ao invés de futebol, forem nossas prioridades, seremos uma nação decente. Enquanto as atenções não forem centradas para as nossas verdadeiras necessidades, melhor distribuição de renda e numa parcela real de 10% do PIB destinada para a Saúde e Educação, jamais deixaremos de ser um país emergente de futuro distante, ou melhor ainda, sem futuro.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fotojornalismo Subliminar

A palavra fotografia tem sua origem no grego e significa desenhar com luz e contraste. Há quase duzentos anos suas técnicas se fizeram presentes entre nós, com sucessivos aperfeiçoamentos de colaboradores, mas sem identificação de seu real inventor.
A fotografia traz lembranças nostálgicas, ao mesmo tempo que denuncia atos e fatos trágicos; a natureza ora perfeita, ou destruída pela ação de forças espontâneas bem como pelo homem no avanço de interesses econômicos. Transmite outrossim o poderio financeiro de grandes concentrações de recursos humanos, como em Nova York e Miami;  em bolsões de pobreza da periferia de grandes cidades, por exemplo, nas favelas e lixões do Rio de Janeiro, São Paulo ou Recife.
As imagens captaram momentos trágicos emocionantes da invasão de Normandie, na França, na Segunda Guerra Mundial, com documentos fotojornalísticos exclusivos. No Holocausto, emocionou o mundo com a capacidade da barbárie humana.
A busca do registro trágico nunca foi tão intensa como na derrubada das Torres Gêmeas, em Nova York, no  11 de setembro. Retratando também a tragédia humana, Sebastião Salgado, em preto e branco, comoveu os espectadores, com o sofrimento da pobreza; dos retirantes da seca no Norte da África ou dos Movimentos dos Sem Terra, iludidos pela festiva esquerda brasileira.

O fotojornalismo hoje tem a compensação de ser maquiado, possibilitando a busca do real se tornar em mais autêntico, se o flagrante não foi perfeito. Permite com recursos técnicos o desejado efeito subliminar
Na análise do retrato de Lula ao lado do perplexo Presidente Obama, transmitiu uma justificativa confissão pela corrupção do Congresso Nacional no seu governo; pareceu referir que “nada sabia” de tão graves acontecimentos. Novamente inocentou sua inércia administrativa, pedindo perdão ao homem mais poderoso do mundo, pela inata incapacidade gerencial.
No ângulo seguinte, Serra, aparentou esgotar todos os recursos disponíveis para eliminar a oposição. Transmitiu a imagem de que seus argumentos não convincentes, têm como último recurso a destruição em massa do concorrente.
       Na outra composição, a presidente Dilma, é virtualmente atravessada por um espadachim, em solenidade militar. “Pior a emenda que o soneto”, pois ocuparia a cadeira presidencial, o seu vice, representante do partido mais fisiologista da República.

Com a famosa e discutida foto do homem pisando na Lua, passível de todos os retoques, está a representatividade da capacidade tecnológica humana. Alcançamos tudo o que queremos, mas nada do que realmente precisamos. A paz, a fraternidade entre os povos, a vitória contra a fome e a miséria, são utopias longe do alcance dos nossos pés. Por mais maquiada que seja esta eventualidade sígnica, não substitui as reais necessidades de conquista da raça humana.  


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Metáforas na Semiótica e no Cotidiano



O emprego de palavras em sentido figurado, por efeito de comparação ou analogia mental, conceituado como metáfora, é também uma linguagem jornalística. São “modos diferentes de expressões que transmitem o mesmo significado numa frase”.
No contexto da semiótica, a “metáfora é um signo simples a partir do qual, pelo estudo sintético, pode dar origem a signos complexos, pela associação com outras manifestações linguísticas. Possibilita estudá-los, tanto os visuais como aqueles relacionados com a linguagem”.
Usada diariamente nos relacionamentos humanos, mesmo se desconhecendo o conjunto do conteúdo da semiose, as metáforas fazem parte do cotidiano. Com freqüência se fala da “mão de Deus”, do “braço do rio” e do “cabelo de milho”; em todos os níveis culturais as palavras de sentido figurado, de um modo corriqueiro, são usadas com naturalidade.
Todavia, no “crepúsculo da vida”, são mais expressivas. As sociedades orientais valorizam mais que as ocidentais o idoso que transmite a “luz do conhecimento”, composta pela soma das “primaveras da existência humana”. Proveniente do Tibet, no “topo do mundo”, Dalai Lama, juntamente Sathya Sai Baba na India, são exemplos de personalidades orientais diferenciadas e reverenciadas.  
As metáforas têm um sentido intelectualizado em conceituadas exposições jornalísticas que trazem um sabor crítico de comparações aos desproporcionais abusos do poder: nos afortunados políticos da “ilha da fantasia brasiliense”; na saúde privilegiada das classes favorecidas em relação ao “matadouro do SUS”; nas distribuições populistas governamentais dos “cartões vale tudo”; nas prioridades de “fundo de quintal”ao invés da valorização de suportes de infraestrutura nacional; na “tropa de analfabetos” que são aprovados no ensino fundamental de escolas públicas,  sem condições de alfabetização, pelos “doutores burocráticos do ensino”.
“Não sabia de nada”, foi uma frase constante em todos os escândalos de um ex presidente do “Florão da América”. Na realidade o mais correto seria dizer que “nada sabia de tudo”, devido à sua “inércia intelectual”, líder apropriado dos aculturados, ingênuos e “oportunistas de plantão”.
No “border line” da intempestividade de nossos atos, ainda há possibilidade da “metáfora transportar” e “aproximar distâncias”.  Agindo com sensatez, pode-se “unir as pontas” e “transportar montanhas” de dificuldades.
Mas estamos no mesmo “barco da vida”, sujeitos a “intempéries momentâneas”. Contudo na “visão de Deus”, o mau uso da “palavra pesa”, o “exemplo arrasta”, a falsa “imagem morre” e o “poder sufoca”. Mas nunca é “tarde da noite” na existência humana para o uso da “mão que se estende”, do “freio na língua”, da “palavra doce”, do “estímulo que levanta” e da “visão sensata” do nosso e dos vizinhos “telhados de vidro”.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Síndrome do Coração Partido e a Visão Semiótica





Uma imagem de “coração partido” tem um significado de tristeza. As conclusões são as mais diversas possíveis, porém todas são de sentimento triste. Na teoria da produção e troca de sentido da Semiótica, o entendimento da comunicação não é linear, ou seja, não tem regularidade; a mensagem sai de uma fonte e o caminho que vai percorrer pode variar conforme a cultura e a óptica do indivíduo que a recebe; a interpretação depende da bagagem intelectual de cada um.

Mas do ponto de vista médico existe mesmo o “coração partido”. No início dos anos 1990, foi descrita uma síndrome pelos médicos japoneses que afeta o músculo cardíaco especialmente nas mulheres após a menopausa. Foi chamada de cardiomiopatia de Takotsubo. Constatou-se que os sintomas são iguais aos do infarto do miocárdio: dor no peito, irradiada para o braço, queda de pressão e desmaio.

         Depois do Japão, foi a vez dos médicos americanos e brasileiros descreverem a sua ocorrência. Já são mais de 200 casos relatados na literatura médica. O curioso é que existem sinais (aquilo que se vê) semelhantes aos do enfarte do coração, no eletrocardiograma e nas alterações das enzimas do sangue; porém, as artérias coronárias não costumam ser afetadas. Ocorre uma dilatação da ponta do ventrículo, sugerindo um coração com uma parte normal e a outra não. Em japonês “tsubo” significa pote (forma do ventrículo alterado).  Daí a semelhança e o nome de Síndrome do Coração Partido.

         A evolução é geralmente boa e na maioria das vezes não deixa sequelas, recuperando-se entre 6 a 8 semanas. A doença compromete preferencialmente mulheres de meia idade e parece estar relacionada com a diminuição dos níveis de hormônios femininos, o estrogênio nesta fase da vida. Mas o fator emocional desencadeante está sempre presente, independente de qual seja a sua origem, positiva ou negativa, isto é, boas ou más emoções.

         Contudo, na vida real, não é só a tristeza que tem a possibilidade de “partir o coração”. Também acontece com uma notícia muito positiva, como o time de futebol preferido que acabou de ser o grande campeão da “rodada”; o filho que passou no vestibular disputado por milhares de concorrentes; a chegada inesperada do querido parente que não via há tanto tempo...

         Todavia os revezes da vida, as más notícias, são os grandes vilões que “partem o coração”: a brusca decepção com o colega de trabalho que foi sempre tratado com tanta atenção; a nostalgia pelas lembranças do familiar que a vida se encarregou de afastar; o sentimento de solidão pela separação amorosa que evoluiu para depressão; a repentina notícia de uma enfermidade grave...

         O cultivo de pensamentos de natureza inferior pode desenvolver o crescimento de idéias suicidas. A raiva repentina pode ser o reflexo da sucessão de imagens negativas, da falta de compreensão pelas atitudes alheias.

         Porém, muitos fatos desagradáveis, se bem administrados, podem ter uma melhor evolução. Depende, em boa parte das situações, das atitudes de cada um o impedimento para que se desenvolva mais um “coração partido”.  Sabemos que na vida, tudo tem início, meio e fim; mas ela é feita de etapas. O término de cada uma delas, não significa necessariamente a extremidade do caminho. Pode ocorrer bem no ponto de um entroncamento que orienta outros sentidos a ser seguidos.

A Síndrome do Coração Partido tem na maioria das vezes “conserto” espontâneo em poucas semanas. A vida humana, todavia, é composta de mais elementos que apenas sua bomba propulsora. A energia mental é o maior dínamo do trabalho organizador de todas as funções orgânicas e da origem de seus desequilíbrios.

Concluindo, a imagem semiótica do coração fragmentado, geralmente de significado triste, tem “existência real”; todavia, é passível de prevenção, tratamento e cura conforme  a administração de suas causas e correção das diretrizes de sua evolução; reunindo os fragmentos dilacerados  e fazendo a reconstrução gestáltica (formação total da imagem pela união dos seus componentes) das emoções e do reequilíbrio orgânico.      

terça-feira, 21 de maio de 2013

Gestalt do Objeto


                                                          
            A palavra alemã, Gestalt, “sem tradução exata em português, refere-se a um processo de dar forma, de configurar o que é colocado diante dos olhos, exposto ao olhar; tem o significado de uma entidade concreta, individual e característica, que existe como algo destacado e que tem uma forma ou configuração como um de seus atributos. Objetos isolados, sem sentido entre si, se relacionados, formam um significado”.

            A Gestalt segue “leis e avaliações que são compostas de unidades, permitindo considerar e analisar elementos que são configurativos da forma, que visualmente coesa, possibilita configurar o objeto de uma maneira equilibrada e harmônica. A consideração das características espaciais permite a sensação de fechamento visual dos elementos que constituem a aparência do modelo; padrão visual de boa continuidade é garantido pelas configurações que têm sequências ou fluidez de formas. Para o conceito de unificação formal é importante a semelhança e/ou a proximidade que se constituem em padrões de unidade pela sua organização”.

            Para uma “avaliação final, considerando as leis da Gestalt, segue-se uma interpretação conclusiva da forma, onde se considera a imagem do objeto refletindo padrões de harmonia e equilíbrio no seu todo, nas partes constitutivas, ou seja, a existência da coerência, clareza e a regularidade; por outro lado, se existe desorganização visual em função destes fatores, ou ainda se o objeto tem uma mistura de coisas bem ou mal resolvidas”.



            Na análise da imagem proposta, a observação visual mostra que o ser humano tem a possibilidade de subir os degraus à sua frente, obtendo uma visão mais alta da horizontalidade em que convive. Porém não há proteções laterais na subida que lhe possibilitem apoio na ascensão. Todavia somente no seu final lhe será permitido um olhar universal e avaliação mais ampla do meio em que se encontrava.

            Em um sentido figurado, a escada é representativa da vida; sua subida pode ser estimulada pela curiosidade, sabedoria, conhecimento, bom senso, religiosidade, etc. Sozinho, não é fácil que alcance seu objetivo; precisa com certeza de apoio, evitando quedas para que atinja sua meta. A busca final é também uma incógnita; a visão superior é mais ampla, porém figurativamente tem suas limitações e mostra as fronteiras impostas à materialidade do indivíduo.

            Do ponto de vista da Gestalt, os elementos parciais na figura apresentada somente são assimilados se reunidos em conceitos mais amplos, com caráter associativo e interpretativo. Isolados, não dão nenhuma ideia de coesão, significado, harmonia, clareza ou regularidade. Necessita uma concepção de união de entendimentos filosóficos subjetivos à cada intérprete.



            Nesta representação, destacando a mão numa fotografia Kirlian da aura humana, mostrando as potencialidades que se sobrepõem à matéria; significativas da energia projetada constantemente ao nosso exterior, captadas por fotos ou descritas por pessoas que têm a sensibilidade de detectar sua presença. A cor e capacidade de expansão mostram as condições de saúde física, emocional e espiritual.

            Do ponto de vista gestáltico é uma imagem mais precisa, de mais fácil compreensão pelo nível de composição. Há um padrão visual com sequencias de formas que se completam, desde que associado à bagagem cultural de cada um na sua interpretação.



Este quadro mostra duas mulheres, uma vestindo burca; própria da sociedade muçulmana, símbolo da opressão feminina, que apenas permite a visão, inibindo qualquer participação social; ocultando quase que completamente seu corpo, possibilitando apenas enxergar o que acontece na sua presença. Ao lado, a outra completamente despida, tem apenas os olhos vendados. Nada vê, porém pode falar o que bem entender.

            Outro significado poderia ser de que a pessoa que observa o que ocorre ao seu redor, é a que fala menos e melhor pondera conclusões. Ao contrário, quem pouco enxerga os fatos, tem uma visão mais fragmentada, e maior facilidade de emitir opiniões distorcidas. A limitação de uma é verbal, a da outra é visual. Apesar de usar imagens opostas, as comparações figurativas têm um só significado, mas com uma adequada análise cultural poderiam nos trazer um entendimento mais elucidativo.

            Na interpretação gestáltica, se concebe na realidade uma imagem só, pois elas se complementam para um juízo mais complexo. A organização visual das formas não é de fácil assimilação, necessita um maior conteúdo cultural, livre de preconceitos e disposto à reorganização da mensagem.



Esta proposição transmite a impressão de uma mão segurando uma lâmpada. Poderia se referir a uma substituição necessária, por uma de igual ou maior capacidade, melhor qualidade, utilidade ou estética mais adequada. Seria interpretada também por uma mudança de diretriz na vida, substituição de valores e companhias, resultado de uma avaliação de maior maturidade; alteração subjetiva de conteúdos, ponderação de outros princípios, possibilidade de retorno a conceitos apagados pela opressão da sociedade e do tempo; substituição da aparência pela realidade, do ter pelo ser, do apego pela simplicidade, da ilusão pelo real...

            A pregnância da forma gestáltica na última figura, é alta em equilíbrio, harmonia, coerência; permite uma compreensão imediata, de fácil interpretação e entendimento, porém é dependente da bagagem cultural do intérprete. Completa uma sequência de quadros propostos de conceitos, unificados em seus conteúdos isolados; estimula uma ordenação de valores, abre novos espaços para a reunião de conceitos fragmentados em uma realidade mais universal, coerente e consistente.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

O Corpo Fala


            Na escala zoológica, o homem é o seu modelo mais evoluído. É o único, em princípio capaz de controlar impulsos e sentimentos. O corpo humano entre todos os seres vivos organizados é o que mais reflete na expressão corporal o grande conjunto das emoções instintivas ou controladas. O universo da amostra física transmite a imagem da totalidade das tendências e domínios da mente.

            Para entender sua linguagem pode ser comparado à esfinge dos egípcios ou dos assírios, composta de quatro partes: corpo de boi, tórax de leão, asas de águia e cabeça de homem.





            1) Boi – Abdômen – Vida Instintiva e Vegetativa

            Representativamente o Boi é o simbólico exemplar de vida instintiva e vegetativa. Por outro lado, o único animal que come além da satisfação da fome é o ser humano. Parte-se do princípio que a fome é a necessidade urgente de comer, visceral; o homem é o único ser vivo que excede a sua saciedade, acrescentando a esta o desejo prazeroso de modo exagerado.

            O abdômen saliente, sinal do descontrole alimentar, associa a lembrança do boi gordo de confinamento. Ainda fazendo parte da vida impulsiva e vegetativa, registra-se o componente sexual para a atração do parceiro (a), que se faz presente na atitude das mãos posicionadas na cintura, com os indicadores orientados para os genitais; no sensacional requebrar dos quadris da garota, atraindo por momentos os olhares lascivos para os seus movimentos.

            2) Leão – Tórax – Vida Emocional

            O componente emocional mais significativo, porém se faz sentir no tórax, o lado leonino que controla a emoção e é considerado a representatividade do ego. Quando há necessidade de sua valorização e de salientar a posição social, a parte superior é projetada com evidência. Ao contrário, ao se sentir derrotado, com baixa autoestima, amor não correspondido, timidez ou submissão, a caixa torácica perde a sua exposição. Não foi em vão que guerreiros romanos usavam proeminentes armaduras, não só com objetivo de proteção, como para valorizar sua constituição muscular. Atitude normal representa um ego equilibrado, em sintonia com estabilidade emocional.

            3) Águia – Cabeça – Vida mental (Intelectual e Espiritual)

            A cabeça posicionada pela natureza na região superior do corpo é o centro da vida mental. Figurativamente é representada pela Águia, símbolo também do poder dos impérios de domínio da humanidade. Exibiu por séculos o poderio de Roma, e hoje é o signo de controle norte americano do mundo moderno.

            Cabeça erguida e tórax saliente constituem sempre a associação própria da hipertrofia dos valores temporários. Porém não os encontramos superestimados nos verdadeiros gênios da intelectualidade e dos representantes da sabedoria espiritual; já dominaram os instintos e posicionaram a transitoriedade da vida nas suas devidas dimensões.

            4) Homem – Conjunto – Consciência e Domínio dos Três Inconscientes Anteriores

            No Ocidente, os significados da fala do corpo são mais limitados às expressões faciais e torácicas, razão pela qual os bustos representativos entre nós têm maior importância. No Oriente é considerado o corpo inteiro. Assim Buda é multiplicado em estátuas com todo o conjunto físico e em escavações chinesas foi encontrado um exército de soldados reproduzidos em terracota para proteger a sepultura do Imperador Qin Shi Huang Di.
            Considerando o sentido figurado das representações, no homem existe a possibilidade da Águia controlar o Leão e o Boi. Discernimento e bom senso juntos à escala de valores de cada um permite compensação de forças. Para nós, meros mortais, os conceitos freudianos ficam bem balanceados nos valores do superego (Águia), do ego (Leão), e do id (Boi). Este paralelo mostra a briga diária dos três elementos de Freud.

            O predomínio de um deles depende exclusivamente de nós, pois como diz o provérbio chinês, “não podemos impedir que os pássaros da ignorância sobrevoem nossas cabeças, mas devemos proibir que façam ninhos nos nossos cabelos”. O essencial seria o equilíbrio entre os três poderes para uma vida mais humana e emocionalmente ponderada, do ponto de vista da psicanálise, um ego equilibrado.  
                   


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quinta-feira, 2 de maio de 2013

Histórias em Quadrinhos


      



       A comunicação humana sempre ocorreu por todos os meios disponíveis desde os tempos mais remotos, testemunhados pelas pinturas rupestres de Lascaux, na França; (representativas de caça, luta pela sobrevivência desde períodos pré-históricos, as inscrições milenares são amostras da capacidade histórica de transmissão de mensagens).
          
      A invenção do alfabeto fenício tornou-se a grande alavanca dos contatos sociais e comerciais da humanidade. Os tipos móveis de Gutenberg, por sua vez, foram o invento cultural mais significativo para os povos, com maior repercussão que a descoberta da América por Colombo na mesma época.

          A facilidade gráfica, associada à linguagem verbal ou não, aproximou as comunidades mais distantes. A criatividade humana inundou as sociedades com diferentes modalidades do uso da expressão de ideias e sentimentos.

           A ilustração, por exemplo, ao contrário das mensagens em quadrinhos, “possibilita uma visão mais ampla do conjunto, mas por outro lado exige um maior tempo de leitura.”
           
         A imagem em quadrinhos, por sua vez, com “sequência narrativa é bem mais criativa”; popularizou hábitos de uma maior transmissão de costumes, cultura e lazer. Faculta uma visão gráfica de atividades sequenciais em todas as áreas humanas.
          
         Exposto através de vinhetas seriadas, empolgou plateias na constituição de desenhos animados na história do cinema. Expressando-se pela linguagem verbal ou não, com uma sucessão de imagens significativas e em série, recheou inúmeras revistas durante décadas facilitando o desenvolvimento cognitivo.

     Recentemente popularizou sua utilização de modo cada vez mais inteligente, com mensagens políticas, de protesto, compartilhamento, lazer e educativas. Podem ser enriquecidas com uma fertilidade de detalhes comunicativos, expressos por distintas formas gráficas de balões junto às personagens, manifestando pensamentos e as variadas reações humanas. A grafia diferente de cada um deles com conteúdo verbal ou não, transmite as emoções vividas pelos figurantes.

       O fascínio que envolve a linguagem dos quadrinhos certamente reflete o paralelo que o ser humano faz com os atos seriados da sua vida, a montagem sequencial da realidade dos fatos; a linha de tempo que transpõe décadas, num movimento contínuo de sucessivas etapas.