O doente sentiu-se pior na manhã de domingo e foi levado a um
serviço de emergência. Segundo informações do paciente o atendimento era
precário desde a recepção.
Enquanto procurava
tranquilizá-lo, uma funcionária relatou que não seria possível verificar a
pressão arterial devido ao uso da sala destinada pra este procedimento. Não
havia também, condições para realizar eletrocardiograma devido à falta de luz
no hospital.
Contou que não foi examinado por
médicos, que estavam ausentes ou ocupados em outras atividades; referiu que
faltavam materiais básicos como estetoscópio, bem como não se dispunham de
pinças e agulhas; Raio-X igualmente não era disponibilizado às pessoas que
recorriam àquele serviço.
Notou que todos eram recebidos de
forma tranquilizadora, mas tinham a mesma assistência precária. Em uma simples
comparação, desabafou que seria mais fácil descer as Cataratas da Foz do Iguaçu
de bicicleta do que conseguir um atendimento com dignidade naquele ambiente.
Assistência médica seja emergencial,
de internamento clínico ou cirúrgico, na América Latina, é precária em todos os
ambientes desassistidos por melhores convênios. E o Brasil, maior país do
continente, não foge à regra. A situação é crítica nos locais de extremos índices
populacionais, pequenos ou grandes centros.
Na primeira situação, de menores
concentrações humanas, se recorre à ambulancioterapia, transferindo os
pacientes para cidades satélites com melhores recursos disponíveis. Nos maiores
aglomerados humanos, os doentes são despejados em corredores hospitalares,
aguardando vagas e morrendo na esperança de um deslocamento adequado.
Os recursos destinados às classes
menos favorecidas no nosso meio, em que pese à demagogia dos governantes,
patina em níveis vergonhosos de recursos à saúde. Isto se reflete nos péssimos
pagamentos aos profissionais, tabelas de procedimentos, e enganosamente os
maiores investimentos públicos só acontecem em períodos pré-eleitorais.
Dispõem-se de condições de
primeiro mundo, nas maiores cidades do país, só em hospitais privados, com
acesso fácil aos grandes empresários e especialmente aos políticos de primeiro
escalão. Em compensação temos os melhores estádios de futebol do planeta;
passarelas de escola de samba que nos brindam com os maiores espetáculos
abertos da Terra. Pão e circo!
Na realidade, o que melhorou a
saúde do povo brasileiro foi atenção dos governos nas décadas anteriores, através das campanhas contínuas de vacinações
públicas; houve erradicação e controle de doenças como as próprias da infância,
ao nível de primeiro mundo, como sarampo, coqueluche, difteria e poliomielite;
diminuição dos casos e melhores condições de tratamento da Aids; declínio da
lepra, raiva humana, tétano, rubéola congênita, doença de Chagas e febre tifoide.
Sexta economia do globo, a
sociedade apela para aplicação de dez por cento dos valores do produto interno
bruto da nação aos menos favorecidos. Porém a velha política romana da comida e
festa ainda é predominante. Futebol, carnaval e “cartão de vale tudo” são
prioridades. Mas o Brasil precisa de mais respostas na saúde pública da atualidade.
Em Junho deste ano, a população
brasileira indignada foi pras ruas. O estopim era o abusivo aumento das tarifas
do transporte público, mas na realidade todos os segmentos da sociedade tinham
queixas. E a saúde pública precária reclamava também por melhor atenção.
Não faltaram manifestações
revoltadas do povão, nos ambulatórios de grandes hospitais como o Sírio-Libanês.
Queriam que a assistência digna se estendesse aos “matadouros” do SUS.
Políticos no Brasil, como sempre,
prometeram providências imediatas. A resposta populista concertaria tudo com a
importação de mais médicos. Afinal a culpa dos problemas, de acordo com o
governo, era da falta de profissionais. Vale a comparação. Pouco importava a
qualificação, quanto mais artistas no picadeiro, mais público satisfeito. Não
importava se os trapézios estivessem rebentados, nem que faltassem redes de
proteção ou que estas fossem estragadas.
Os mais importantes eram os palhaços,
equilibristas e ilusionistas. E com entrada franca. Quanto mais, melhor, no
centro do circo e na plateia. Mais profissionais sem qualificação, fazendo de
conta que estão atendendo, menos queixas de atendidos que recebem receitas,
pensando que já solucionaram os problemas.
E o povo agora dispondo de mais
médicos importados, com cartões de cesta básica de alimentação - mesmo sem
acompanhamento social decente - vai reclamar do que? Se tivesse informação adequada,
quem sabe o nível de conscientização fosse outro. Porém, não há interesse em
melhorar o grau de instrução; só alfabetização básica para não chocar a opinião
pública mundial.
Entretanto, se algum benefício
imediato acontecer com a presença de mais médicos, é ilusório e demagógico que
a situação seja prontamente resolvida. A distribuição de profissionais recém-formado
nas regiões carentes poderia até ter impacto positivo.
Porém ninguém parece renunciar ao
conforto de grandes cidades; em presença de complicações, o trabalho isolado do
médico não é suficiente. Necessita de equipe treinada e unidade bem equipada. Não
há leitos disponíveis para todos internamentos.
Faltam também estruturas de transporte e hospitais referência para os
casos mais complexos.
Finalizando, a atual saúde
pública brasileira, ambulatório e hospitalar é um grande circo. No país
emergente do BRICS, todos, atendentes
e atendidos, brincam de saltimbancos,
ilusionistas, malabaristas, equilibristas, trapezistas e palhaços; no picadeiro
com as receitas, faltam equipamentos, remédios básicos e atendentes; salário
curto e baixo nível cultural convivem com saúde precária e desassistida. Mais
fácil descer as Cataratas da Foz do Iguaçu de bicicleta que receber atendimento
digno nestes ambientes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário