Uma imagem de “coração partido” tem
um significado de tristeza. As conclusões são as mais diversas possíveis, porém
todas são de sentimento triste. Na teoria da produção e troca de sentido da Semiótica,
o entendimento da comunicação não é linear, ou seja, não tem regularidade; a
mensagem sai de uma fonte e o caminho que vai percorrer pode variar conforme a
cultura e a óptica do indivíduo que a recebe; a interpretação depende da
bagagem intelectual de cada um.
Mas
do ponto de vista médico existe mesmo o “coração partido”. No início dos anos 1990,
foi descrita uma síndrome pelos médicos japoneses que afeta o músculo cardíaco
especialmente nas mulheres após a menopausa. Foi chamada de cardiomiopatia de
Takotsubo. Constatou-se que os sintomas são iguais aos do infarto do miocárdio:
dor no peito, irradiada para o braço, queda de pressão e desmaio.
Depois do Japão, foi a vez dos médicos
americanos e brasileiros descreverem a sua ocorrência. Já são mais de 200 casos
relatados na literatura médica. O curioso é que existem sinais (aquilo que se
vê) semelhantes aos do enfarte do coração, no eletrocardiograma e nas
alterações das enzimas do sangue; porém, as artérias coronárias não costumam ser
afetadas. Ocorre uma dilatação da ponta do ventrículo, sugerindo um coração com
uma parte normal e a outra não. Em japonês “tsubo” significa pote (forma do
ventrículo alterado). Daí a semelhança e
o nome de Síndrome do Coração Partido.
A evolução é geralmente boa e na maioria
das vezes não deixa sequelas, recuperando-se entre 6 a 8 semanas. A doença
compromete preferencialmente mulheres de meia idade e parece estar relacionada
com a diminuição dos níveis de hormônios femininos, o estrogênio nesta fase da
vida. Mas o fator emocional desencadeante está sempre presente, independente de
qual seja a sua origem, positiva ou negativa, isto é, boas ou más emoções.
Contudo, na vida real, não é só a
tristeza que tem a possibilidade de “partir o coração”. Também acontece com uma
notícia muito positiva, como o time de futebol preferido que acabou de ser o
grande campeão da “rodada”; o filho que passou no vestibular disputado por
milhares de concorrentes; a chegada inesperada do querido parente que não via
há tanto tempo...
Todavia os revezes da vida, as más
notícias, são os grandes vilões que “partem o coração”: a brusca decepção com o
colega de trabalho que foi sempre tratado com tanta atenção; a nostalgia pelas
lembranças do familiar que a vida se encarregou de afastar; o sentimento de
solidão pela separação amorosa que evoluiu para depressão; a repentina notícia
de uma enfermidade grave...
O cultivo de pensamentos de natureza
inferior pode desenvolver o crescimento de idéias suicidas. A raiva repentina
pode ser o reflexo da sucessão de imagens negativas, da falta de compreensão
pelas atitudes alheias.
Porém, muitos fatos desagradáveis, se
bem administrados, podem ter uma melhor evolução. Depende, em boa parte das
situações, das atitudes de cada um o impedimento para que se desenvolva mais um
“coração partido”. Sabemos que na vida,
tudo tem início, meio e fim; mas ela é feita de etapas. O término de cada uma
delas, não significa necessariamente a extremidade do caminho. Pode ocorrer bem
no ponto de um entroncamento que orienta outros sentidos a ser seguidos.
A Síndrome do Coração Partido tem na
maioria das vezes “conserto” espontâneo em poucas semanas. A vida humana,
todavia, é composta de mais elementos que apenas sua bomba propulsora. A
energia mental é o maior dínamo do trabalho organizador de todas as funções
orgânicas e da origem de seus desequilíbrios.
Concluindo, a imagem semiótica do
coração fragmentado, geralmente de significado triste, tem “existência real”;
todavia, é passível de prevenção, tratamento e cura conforme a administração de suas causas e correção das
diretrizes de sua evolução; reunindo os fragmentos dilacerados e fazendo a reconstrução gestáltica (formação
total da imagem pela união dos seus componentes) das emoções e do reequilíbrio
orgânico.
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