O trabalho paciencioso dos monges copistas da Idade Média
seguia tranquilo, juntando pedaços de pano e pergaminhos na confecção artesanal
de livros. A maior parte dos mosteiros tinha bibliotecas, onde se guardavam os
manuscritos.
Copiavam à mão obras religiosas, de filosofia, medicina e
autores clássicos. Demoravam anos pra confeccionar um livro. Como eram raros e
muito caros, prendiam em correntes para dar maior segurança.
Porém, em meados do século XV, o mundo viveu um dos maiores
acontecimentos da história. Chamou mais atenção que o próprio descobrimento da
América. Em 1455, Gutenberg, na Alemanha, inventou a imprensa, usando tipos
móveis e imprimindo a Bíblia Sagrada em letras góticas.
Estavam abalados, a partir de então, não só a tranqüilidade
dos beneditinos, mas a velocidade da informação no mundo. Foi a mais significativa
ocorrência no desenvolvimento da vida humana; para muitos cientistas, teve mais
impacto que a invenção do automóvel, rádio, cinema, televisão, cinema e
internet, pois sem Gutenberg nenhum deles, “quem sabe”, teriam aparecido.
Coma prensa, a informação passou a ter outro significado. No
Brasil, a transmissão dos novos acontecimentos, foi bem mais lenta. Após o
descobrimento, a repressão portuguesa era intensa, pela riqueza que a grande
colônia representava, evitando ensaios de independência.
Enquanto México, Peru e EUA no século XVI já contavam com
tipografias, a proibição no Brasil era completa. Em 1746, por exemplo, Antônio
Isidoro da Fonseca, transferiu a oficina de Lisboa para o Rio de Janeiro;
imprimiu dois textos bem comportados, mas uma Ordem Régia seqüestrou os bens de
Isidoro e condenou a deportação pra Portugal.
Porém, em 1808, Dom João VI fugiu pro Brasil, perseguido por
Napoleão. Na frota, a nau Medusa trouxe uma tipografia que Lisboa recentemente
encomendara de Londres; chegaram assim, finalmente, as condições que dariam
início à imprensa brasileira.
Possibilitou naquele ano a produção da Gazeta do Rio de Janeiro;
no início, informava apenas ações administrativas e a vida social no Reino. Era
a única imprensa permitida no país; mas depois produziu artigos nas áreas
científicas, formação da Academia Militar, cursos de Engenharia e romances; foi
o embrião do atual Diário Oficial brasileiro.
Infelizmente a colônia dispunha de poucos leitores, devido ao
grande índice de analfabetos. As tentativas de tipografia no restante do
Brasil, como na Bahia e Pernambuco foram perseguidas e abortadas.
Entretanto de Londres, Hipólito da Costa, futuro Patrono do
Jornalismo do Brasil, também em 1808, lançou o Correio Braziliense-Armazém
Literário; com oposição doutrinária à Dom João VI, pregava a liberdade, mas sem
sangue nem guerra. Na realidade era monarquista e é discutível o papel que
desempenhasse contra a escravidão; revolucionário, não no sentido bélico, mas
do ponto de vista moral, cultural e social.
Hipólito nasceu na colônia portuguesa, em Sacramento, atual
Uruguai, porém, com formação nos EUA, vivenciou naquele país novos conceitos de
liberdade. Entretanto, só encontrou em Londres o ambiente ideal pra criticar a
orientação administrativa da monarquia brasileira; o Correio Braziliense
circulava, em 1808, clandestinamente em nosso meio.
Dom Pedro I decretou,
em 1821, o fim da censura prévia no país e surgiu nesta data o Diário do Rio de
janeiro, considerado o primeiro jornal informativo do Brasil. Mesmo assim, Frei
Caneca, em 1825, acabou fuzilado em Pernambuco por defender a liberdade de imprensa
e o fim da escravidão.
Diferente dos antecessores, Dom Pedro II foi mais liberal e
tolerava as publicações republicanas. Com o fim da Monarquia no país, em 1889, estava
aberto o caminho pra circulação de outros periódicos.
Vivemos após, períodos de certa liberdade de imprensa, com a
criação de vários jornais. Alguns, como o Estado de São Paulo e o Jornal do
Brasil, no Rio de janeiro, criados no fim do século XIX, circulam até hoje.
Na década de 20 do século passado, iniciou o período áureo do
Jornalismo brasileiro. Os Diários Associados de Assis Chateaubriand formaram um
conglomerado inovador. Chegaram a reunir em todo o país 36 jornais, 18
revistas, 36 rádios e 18 emissoras de televisão.
Porém, entre 1934 a 1945, a censura à comunicação tornou-se
férrea através do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), durante a
ditadura de Getúlio Vargas. Vetou o registro de 420 jornais e de 346 revistas.
Com o militarismo no
Brasil, de 1964 a 1984, novamente os órgãos de comunicação não alinhados ao
governo, sofreram também sérias represálias. A edição do Ato Institucional
número 2, fez com que o “Jornalismo sério” encolhesse de modo significativo.
A imprensa brasileira, com poucas exceções, priorizou sempre
os interesses das elites dos poderes políticos e econômicos na troca de favores.
Os objetivos comunitários, porém, foram lembrados quando as pressões populares se
tornaram quase insuportáveis.
Assim, se obrigou a ser parceira da sociedade no fim da
ditadura, quando os próprios militares começaram a admitir a abertura política.
A Folha de São Paulo, encampou o movimento e publicou um editorial convocando a sociedade
para o movimento Diretas Já.
Na campanha pró Impeachment de Fernando Collor de Mello, os
órgãos de comunicação que não aderissem, seriam alvo de discriminação popular.
Ninguém poderia “perder a oportunidade de estar com o povo”.
Com o fim dos regimes de exceção, os periódicos nacionais buscaram,
a partir de então, modernidade e entraram na fase eletrônica. O Jornal do
Brasil foi o primeiro, com a inauguração em 1995 do JB Online.
Mesmo com todas as conquistas democráticas, tecnológicas e
econômicas, nosso jovem país tem patinado em Educação. A deficiência do sistema
educacional brasileiro, nos ensinos fundamental e médio se reflete na preparação
dos candidatos aos cursos universitários.
Há mais de 20 anos o Brasil já era oitava economia do
planeta. Porém, países sem essa distinção, como a Coréia do Sul, perceberam há
muito tempo que só com Educação, seriam competitivos. Hoje somos a sétima, quem
sabe logo seremos a sexta potência econômica do mundo; mas em Educação, nossos
níveis continuam assustadores.
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) é hoje
o principal exame para medir a qualidade da educação no mundo. Os resultados de
2009, sua última edição, mostraram o Brasil em uma situação delicada: no 53º
lugar entre 65 países no Pisa.
A Coréia do Sul vive atualmente uma febre educacional. Os
alunos sul-coreanos estão entre os melhores do mundo em matemática, ciência e
leitura, de acordo com os resultados do Pisa. Segundo dados da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 97% dos estudantes completam o
ensino médio - o mais alto percentual entre todos os países pesquisados.
Para que possamos mudar nossos índices, é necessário também
uma autêntica democratização nas comunicações; isto seria possível através do acesso a valores éticos nos meios de informação,
criando condições de reflexão, análise, produção de conhecimento e
desenvolvimento do nosso pensamento crítico.
Torna-se fundamental através uma mídia democratizada, discussões
de questões educacionais, ambientais, de moradia, pesquisas científicas,
políticas públicas de saúde, dúvidas e esperanças sociais. Infelizmente não é o
que acessamos, no cotidiano, pois o que temos atualmente é uma TV com ação
social alienadora.
Herbert Blumer, da Escola de Chicago alertou para o perigo do
efeito de filmes sobre as crianças e adultos jovens. Revelou que o “cinema
ensina estilo de vida, penteados, o modo de beijar e até mesmo como bater
carteiras”.
Blumer disse ainda que “o modo que as pessoas vêem os objetos
depende do significado destas coisas para elas, e este significado ocorre como
um processo de interação social”. Porém, é maligna a exposição diária da
telinha alienante e invasora dos lares brasileiros.
Para Vygotsky o desenvolvimento das capacidades humanas
ocorre num campo de trocas entre os mundos interno e o externo, construtores da
nossa subjetividade. Seria um processo contínuo de intercâmbios transformadores,
automoldáveis, resultando num subjetivo mais elaborado; ou seja em melhor conteúdo
individual e de maior valor pessoal. Que sistema de trocas podemos esperar de
uma mídia não democratizada e alienadora?
Agora, vamos ver alguns dados atuais sobre o Jornalismo no
Brasil. Existem cerca de 120 cursos no país, formando em média 5000
profissionais por ano; mas de acordo com a organização Repórteres sem
Fronteira, ocupávamos em 2012, a 99° posição no ranking de liberdade de
expressão no mundo.
Mesmo sem o regime militar há cinco décadas, nosso país em
2013, foi o terceiro com maior número de mortes de profissionais de imprensa no
exercício da função, com sete jornalistas assassinados naquele ano; atrás
apenas da Síria, Somália e México, segundo a Campanha Emblema para a Imprensa,
entidade com sede em Genebra.
Com a velocidade das publicações, hoje cada vez mais
instantâneas, somada à censura de informação e mortes de jornalistas, à intensa
ação alienadora da imprensa, que atitudes teriam, Gutenberg, produtor das
primeiras Bíblias Sagradas impressas e os pacatos monges copistas, se deparassem
com o mundo atual? Santos Dumont não suportou que os aeroplanos inventados com
tanto esforço, para fins benéficos, fossem utilizados na ação destruidora da
guerra. Respondeu com suicídio.
Não sendo tão pessimistas, lembramos escritores como Cervantes,
que após 400 anos, que ainda é citado como otimista. Disse que, como o
personagem Dom Quixote, sonhava com o que existia de mais sensato no ser humano
e acreditava que isto poderia ser melhor explorado e realizado.
Igualmente, o imortal Monteiro Lobato, autor de tantos livros
educativos infantis, deixou considerações sobre o futuro da raça humana; porém,
desde que existissem condições de igualdade em todos os sentidos. Numa metáfora de significado social, dizia,
“quem tem força, abusa do menos favorecido e só haverá paz no mundo, quando
todos os países tiverem armas iguais, ou seja, quando todos tiverem bombas atômicas”.
Isso só seria possível, quando todos tivermos
acesso à Educação, em condições igualitárias, utilizando os recursos
proporcionados por Gutenberg, na paciente construção individual pela leitura,
como monges beneditinos; com a colaboração de uma mídia democratizada e não
alienadora, na formação de subjetivos mais bem informados, que possam ser
também transformadores da sociedade.