No mês passado assisti na
televisão a uma das entrevistas mais interessantes e ouvidas até hoje. Na
realidade faz tempo que perdi contato com suas crônicas e não imaginava que ele
continuasse tão lúcido e carismático.
Tomei
conhecimento pela primeira vez do que escrevia nos anos 70 passados, quando lia
seus artigos na saudosa Manchete. Com 86 anos, continua polêmico e parece que
cada vez atrai mais a nossa atenção.
Falava
na ocasião da história brasileira com tanta naturalidade como se tivesse
vivenciado a Revolução de 30. Prendia a atenção dos fatos que acompanhou de
perto, como o governo Vargas, que classificou justificadamente como o maior
estadista brasileiro.
Aprisionava
a concentração na continuidade dos acontecimentos que sucederam o suicídio de
Getúlio, destacando o papel de Juscelino como realmente o inigualável
construtor do Brasil. Implacável crítico dos atos institucionais no regime
militar foi expulso do país vivendo um bom tempo na controversa Cuba.
Questionado sobre os últimos presidentes definiu Lula como uma caixinha de
surpresas.
A
qualidade de mais de 20 romances escritos, crônicas, contos, ensaios
bibliográficos, reportagens, adaptações, parcerias com outros escritores lhe
valeram merecidamente uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Afinal o
leitor já deve imaginar de quem estamos falando.
Carlos
Heitor Cony, beirando os 90 anos de idade continua o mesmo, discorrendo eventos
anteriores e atuais com interesse e conhecimento. Mas o que causou impacto foi
a conclusão do encontro jornalístico.
Solicitada
uma frase que fechasse a entrevista, esperava com atenção algo de conteúdo
erudito que conseguisse assimilar. A
sábia e experiente resposta tinha um cunho bem popular: “o que é do homem o
bicho não come”.
Com
certeza referia-se ao que compete para o ser humano na trajetória de vida, um
conteúdo ímpar de enfrentamentos propostos. Não há, no cotidiano, modos de vida
idênticos na totalidade do caminho individual seguido.
Ao
mesmo tempo, acertos e desacertos sucessivos não lhe tirariam as possibilidades
previstas no esforço de uma conclusão satisfatória. Cabe a cada qual traçar seu
objetivo e buscar com afinco o resultado oportunizado.
Trazia
na mensagem possivelmente o significado do papel reservado a todos no contexto
da dimensão em que nos encontramos, responsabilidades e oportunidades únicas e
individuais, com um chip próprio e intransferível, registro de nossas vivências
e atitudes.
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