quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O que é do homem o bicho não come


                 


                   No mês passado assisti na televisão a uma das entrevistas mais interessantes e ouvidas até hoje. Na realidade faz tempo que perdi contato com suas crônicas e não imaginava que ele continuasse tão lúcido e carismático.

                Tomei conhecimento pela primeira vez do que escrevia nos anos 70 passados, quando lia seus artigos na saudosa Manchete. Com 86 anos, continua polêmico e parece que cada vez atrai mais a nossa atenção.

                Falava na ocasião da história brasileira com tanta naturalidade como se tivesse vivenciado a Revolução de 30. Prendia a atenção dos fatos que acompanhou de perto, como o governo Vargas, que classificou justificadamente como o maior estadista brasileiro.

                Aprisionava a concentração na continuidade dos acontecimentos que sucederam o suicídio de Getúlio, destacando o papel de Juscelino como realmente o inigualável construtor do Brasil. Implacável crítico dos atos institucionais no regime militar foi expulso do país vivendo um bom tempo na controversa Cuba. Questionado sobre os últimos presidentes definiu Lula como uma caixinha de surpresas.

              A qualidade de mais de 20 romances escritos, crônicas, contos, ensaios bibliográficos, reportagens, adaptações, parcerias com outros escritores lhe valeram merecidamente uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Afinal o leitor já deve imaginar de quem estamos falando.

                Carlos Heitor Cony, beirando os 90 anos de idade continua o mesmo, discorrendo eventos anteriores e atuais com interesse e conhecimento. Mas o que causou impacto foi a conclusão do encontro jornalístico.

                Solicitada uma frase que fechasse a entrevista, esperava com atenção algo de conteúdo erudito que conseguisse assimilar.  A sábia e experiente resposta tinha um cunho bem popular: “o que é do homem o bicho não come”.

                Com certeza referia-se ao que compete para o ser humano na trajetória de vida, um conteúdo ímpar de enfrentamentos propostos. Não há, no cotidiano, modos de vida idênticos na totalidade do caminho individual seguido.

                Ao mesmo tempo, acertos e desacertos sucessivos não lhe tirariam as possibilidades previstas no esforço de uma conclusão satisfatória. Cabe a cada qual traçar seu objetivo e buscar com afinco o resultado oportunizado.    

                Trazia na mensagem possivelmente o significado do papel reservado a todos no contexto da dimensão em que nos encontramos, responsabilidades e oportunidades únicas e individuais, com um chip próprio e intransferível, registro de nossas vivências e atitudes.       

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