terça-feira, 18 de novembro de 2014

Frequentes assassinatos políticos em outubro e novembro



Os meses de outubro e novembro não são bons para os políticos. Não é numerologia, são relatos da história. O assassinato de John F. Kennedy, 35° presidente dos Estados Unidos, ocorrido em 22 de novembro de 1963, em Dallas, em plena Guerra Fria, deixou o mundo ocidental de luto.

Mas na lista de políticos atingidos, predominam tiranos e ditadores que queriam se perpetuar de todas as maneiras possíveis e historicamente foram eliminados, com mais frequência, nos meses relatados. Um deles foi Park Chung-Hee, na Coreia do Sul, assassinado em 26 de outubro de 1979, após exercer poder ditatorial por quase 18 anos.

Sem pertencer ao quadro dos déspotas, mas também morto em novembro de 1995, Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, foi brutalmente alvejado por um atirador de elite. O odiado Saddam Hussein foi enforcado em novembro de 2006 no Iraque e em outubro de 2011, na Líbia, foi a vez do detestado ditador Kadafi.

No Brasil, em menos de três décadas, 72 políticos foram mortos, em diferentes períodos e locais, segundo a revista Carta Capital. Porém, um dos crimes mais chocantes, foi a cruel e misteriosa morte do honesto prefeito Celso Daniel, de Santo André (SP), em 2002, após denunciar esquema de corrupção política.

Seria infantilidade estabelecer qualquer ligação trágica com a tradicional e inocente lenda do Dia das Bruxas, o Halloween, que acontece no último dia de outubro, no meio dos meses “assombrados”. Mas conforme o ditado, “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.


Porém, se houvesse alguma eventual relação, que se preservem os bons políticos que merecem crédito. E tudo indica, que entre os assassinados nestes meses sucessivos, há mais odiados do que amados. Bueno, también yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay... 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

José Bonifácio, Patriarca da Independência e da Ecologia




A sociedade secreta, “Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz”, reunia ao redor da mesa, conspiradores de todas as idades, com um objetivo em comum: dar ao Reino do Brasil um caminho próprio, independente da Coroa Portuguesa.

Naquele 2 de junho de 1822, no Rio de Janeiro, o mais velho, conhecido como Tibiriçá, sensibilizava o jovem Rômulo, no ambiente clandestino, com os lemas de “Independência ou Morte”, “União e Tranquilidade” e “Firmeza e Lealdade”. Terminada a reunião dos poderosos conspiradores, Rômulo assinava com as iniciais D.P.A. e Tibiriçá escrevia J.B.A.S.

Estava selado o futuro do grande império brasileiro, que seus seguidores saberiam conduzir com uma integridade geográfica inigualável no Novo Mundo, ao contrário dos vizinhos que se esfacelaram em nações menores. No documento da conspiração, D.P.A., era o jovem D. Pedro de Alcântara; J.B.A.S., o velho José Bonifácio de Andrade e Silva.

Mas até chegar aos episódios onde teve decisiva participação no movimento de libertação de nosso país, que lhe deram o título de Patriarca da Independência, o inquieto José Bonifácio teve uma biografia muito movimentada. Nascido em Santos, SP, em 1763, seu pai, o enviou para iniciar estudos na capital paulista.

Alguns anos depois, foi encaminhado para a Faculdade de Direito de Coimbra, em Portugal. Tornou-se advogado, filósofo, professor, cientista, político, mas não abandonou o espírito guerreiro, combatendo a invasão de Napoleão em terras portuguesas, em organizações de libertação e com uso de armas.

No Brasil, após muitos anos, com a abdicação de D. Pedro I e a transferência deste para Portugal, tornou-se tutor de seus filhos, demonstrando uma lealdade ímpar ao Império Brasileiro; poderia, ter modificado a história, pois tinha um enorme poder concentrado nas mãos.

Mas a parte que mais nos interessa no recente artigo, foi a verdadeira defesa da ecologia na Terra de Santa Cruz. José Bonifácio estava muito preocupado com a matança das baleias, o uso e abuso do óleo daqueles mamíferos nas lamparinas do Reino.

Entre outros artigos científicos, foi o autor, em 1790, de “Memória sobre a Pesca das Baleias e a Extração de seu Azeite, com algumas Reflexões, a Respeito das Nossas Pescarias”. Mostrava-se indignado com o costume de arpoar baleotes ainda mamando, com a quebra da cadeia produtiva. Sabia-se, desde então, que elas só pariam um único filhote e de dois em dois anos.

Além do mais, as concorridas e refesteladas festas dos nobres brasileiros eram iluminadas com óleos dos inocentes animais. Foi o primeiro e autêntico defensor da ecologia em nosso meio.

O poderoso José Bonifácio merecia muito mais que o título de Patriarca da Independência. Deveria ser consagrado como nosso maior e autêntico representante da honesta ecologia.

Com pretextos de fachada, as ONGs, mantidas na maioria por nacionalidades europeias, com origem em países colonialistas e devastadores, se “preocupam” agora com a ecologia amazônica. Destruíram fauna, flora e culturas seculares de astecas, incas e maias nas Américas e nas últimas décadas se mostram “sensibilizados” com a demarcação de terras indígenas.

Acreditem neles quem não estudou história das civilizações destruídas, das quais só sobraram ruínas, devastadas pela ambiciosa fúria do Velho Mundo. Usaram, à vontade, nosso ouro extraído no período colonial, e agora estão inconformados com a exploração racional de riquezas minerais dos tupiniquins.


O brado do Ipiranga precisa ter continuidade, não oculto nas iniciais D.P.A. e J.B.A.S., mas num contínuo alerta de Independência, explícito pelo povo brasileiro; autêntico dono das terras indígenas, demarcadas ou não, em verdadeira defesa da nossa ecologia e das reservas minerais cobiçadas pelas ONGs, financiadas pela nobre “pilantropia” estrangeira; e endoçadas pelo pseudos ecologistas de plantão, “fiéis defensores” do mico leão dourado da Terra de Santa Cruz.         

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Histórias em Quadrinhos na Arte Sacra




E agora, vamos ver a Via Sacra, obra de Portinari!

O guia turístico orientava em direção à Igreja de São Francisco de Assis da Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais. O templo, projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, é consideradado obra prima do conjunto; porém, pemaneceu mais de uma década fechado, devido à forma inusitada da arquitetura e à representação genial de Portinari, que escandalizaram as autoridades eclesiásticas.

Curiosamente, os quatorze anos em que a igreja ficou fechada, coincidiram exatamente com o número dos painéis da Via Crucis, de Cândido Portinari, represntando o martírio de Jesus em representações seriadas. A Arte sacra é considerada uma representação de assuntos ou personagens religiosos.

Mas o interessante é que o enfoque em série, que algumas obras artisticas revelam, se assemelham à representação atual das histórias em quadrinhos (HQ)s; procuram transmitir uma noção de continuidade e deslocamento e têm raízes bem mais antigas que as diferentes interpretações descritas da Via Dolorosa de Jesus, que as esculturas e os vitrais em sequência.

As interpretações das Estações da Cruz, de outros artistas, também se encontram em templos de várias partes do mundo, principalmente no Vaticano. Em Lourdes, na França, por exemplo, as figuras estão ao ar livre, em tamanho natural, seguindo as etapas em sequência do sofrimento de Cristo.

As manifestações artísticas seriadas estão igualmente na escultura em muitas regiões do planeta. No Brasil, as obras de Aleijadinho, onde 12 profetas foram esculpidos em pedra sabão, no século XVIII, estão expostas lado a lado, no adro do santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, Minas Gerais.

Da mesma forma, em Florença, na Itália, no início do século XV, Masaccio deixou um ciclo de afrescos sobre a vida de São Pedro. Os vitrais, por sua vez, encantam religiosos e visitantes em templos católicos medievais e muitos dão uma sensação de roteiro em série.

No século XVII, surgiu na Itália a Arte Barroca, como intensa propaganda da Igreja contra a Reforma Protestante e a fragmentação do cristianismo. Diferente do Renascimento, onde a representação é estática, no Barroco as figuras têm uma conotação teatral, como estivessem sempre em movimento. A finalidade era chamar atenção e atrair mais fiéis.  

Porém, a disposição para relatar acontecimentos, através de imagens, é muito mais antiga e já existiam na pré-história, há cerca de quinze ou dezessete mil anos, confirmadas cientificamente com Carbono 14; foram descobertas nas inscrições de Lascaux, perto de Montignac, na França em 1940 e comprovadas como inscrições rupestres, representantes da Era do Alto Paleolítico.

Estão presentes nas representações daquela caverna, figuras gigantes de bisões, cavalos e felinos, alguns com aspectos míticos, como representações de homens com cabeça de pássaros; obedecem uma continuidade como nos quadrinhos atuais. As cores predominantes das formas são amarelo, preto e ocre. Estudos revelaram que as tintas eram principalmente produtos de ossos e sangue animais.  

Também em Roma, no ano 113, o imperador Trajano construiu uma torre curiosa, com 38 metros de altura, em mármore, para comemorar a vitória contra os dácios. Em toda a volta, em espiral, em baixo relevo, estão inscritas em série, cenas de aspectos geográficos e batalhas, com um desenho de árvore, separando cada acontecimento. É uma verdadeira apresentação em HQs.

Gutemberg criou os tipos móveis em 1450, produziu a Bíblia Sagrada em grande quantidade e permitiu a disponibilidade de toda a impressão gráfica. E a sequência narrativa empolgou os leitores com as mais diversas motivações; mensagens de política, protesto, compartilhamento, educação e lazer invadiram o mundo com vinhetas seriadas.

Porém, o pioneiro dos quadrinhos, semelhantes aos atuais, foi o professor suíço Rodolphe Töpffer (1799-1846), que desenvolveu M.Vieux-Bois. Todavia, ele dizia que se inspirou em gravuras em série do inglês William Hogarth, no início do século XVIII.  

Contudo, a consagração da primeira HQ com formatos considerados modernos é de Richard Outcault, em 1895, no jornal World, em Nova York, com a tirinha Yellow Kid. Já possuía balões gráficos contendo as expressões dos personagens como nos quadrinhos atuais.  

As emoções vividas pelos figurantes passaram a ser expressas em formas verbais ou não, mas com uma montagem sequencial, narrativa, satírica ou mística. O cinema logo se apossou da criatividade gráfica expressando movimento e iniciou a modalidade muda em salas de projeções para empolgadas platéias, acompanhando pelo música ao vivo, a geração dos fatos apresentados.

Enfim, o fascínio dos atos seriados da vida empolgaram a raça humana desde a pré-história, documentados nas inscrições rupestres das cavernas de Lascaux; nas espirais de sequência histórica em baixo relevo da coluna de Trajano; nas empolgantes interpretações do magnetismo espiritual da Via Sacra nos vitrais e afrescos de apresentação cíclica de Masaccio dos templos católicos, fiéis guardiões da fé cristã; nas esculturas seguindo os passos de Cristo, ao ar livre, em Lourdes; na apresentação lado a lado dos profetas em pedra sabão  de Aleijadinho; na conotação teatral, lembrando movimentos, da Arte Barroca italiana.

A linha do tempo da expressão humana se perde na história em sucessivas etapas gravadas. Porém são composições de emoções com subjetividades marcantes, construídas com raízes culturais de guerras, conquistas, políticas, satíricas, míticas e místicas. Constituem amplas expressões culturais de gerações da raça humana e devem ser valorizadas nas manifestações de criatividade, em exposições seriadas de evolução material e espiritual.  

terça-feira, 17 de junho de 2014

Kitsch e Cultura de Massa




“E daí, comadre, quando vai pra Aparecida? Me traz de lá uma imagem da nossa padroeira e uma medalhinha?”. Peguntou à amiga, também devota de Nossa Senhora. Sem saber, estava pedindo um kitsch.

Kitsch é uma palavra de origem alemã com aplicação e significado discutíveis. Usado para nomear objetos de valor estético, deturpado, exagerado ou uma cópia considerada inferior à original. São associados ao gosto individual, utilizando valores de tradição cultural.

O termo kitsch teria origem na metade do século XIX, em Munique, na Alemanha, considerada Atenas da Europa Central. É aceita como a capital geográfica do kitsch, sendo os núcleos secundários, Paris, Düsseldorf, Bruxelas e Chicago.

Iniciou na Alemanha e a palavra significava fazer móveis novos a partir de velhos; vender uma coisa em lugar de outra ou ainda uma pintura barata, de baixa qualidade, classificada como “lixo”. Outra aplicação do termo, decorreu do pedido dos ricos turistas americanos que encomendavam aos pintores de Munique, um esboço artístico e recebiam em troca do pagamento, apenas um desenho comercial.

O uso do kitsch não se limitou aos locais de nascimento. Invadiu também o campo, misturando-se a outras fronteiras e culturas. Até na Ásia, são estampadas garotas em capas de calendário, substituindo produtos nativos; tornou a lembrança industrializada mais barata que outra feita à mão.   

Um objeto é considerado kitsch se for imitação de uma obra de arte ou material, conotação de exagero, tanto na linguagem visual como verbal; ocupação de espaço errado, como um carrinho de pedreiro usado como jardineira; perda da função original, como uma garrafa de bebida usada como castiçal; apelo ao sentimentalismo; disseminação de um produto com público reduzido para um maior, ampliado.
   
Pode chegar ao modelo grotesco, como bules, com bico em forma de órgão sexual masculino, almofadas em forma de seios, camisetas com palavrões obscenos e assim por diante. Assim, muitas vezes é considerado “uma oposição ao conceito de arte, ou ainda uma expressão artística de má qualidade”. Desse modo, desde o início, já tinha uma associação pejorativa.

Hoje, são considerados kitsch, a falsificação de materiais como madeira pintada imitando mármore, ou por exemplo, de zinco dourado como bronze, aparentando nobreza; ou ainda,  cópia ou adaptação de modelos eruditos, com cores exóticas e exageradas.

Objetos kitsch, via de regra, produzem “resposta emocional automática e irrefletida”. São, dessa maneira, gatinhos de porcelana, bonecos de pelúcia, anões de jardim, postais nevados da Suíça, ímans e pinguins em geladeira; flores de plástico, jarra em forma de abacaxi, carrinho de pedreiro, usado como jardineira; garrafa de vinho como castiçal e assim por diante.

Mas não são apenas conotações de reprodução comum que são consideradas bregas e baratas. Imitações de obras artísticas podem ter atenção especial. Gravuras originais, por exemplo, vendidas em museus famosos como o Louvre, podem alcançar valores expressivos.

Todavia, o apelo emocional, já comentado como característica de kitsch, é usado de forma política, explorando mitos culturais, na consciciência do receptor. Isso fez Catherine Lugg, considerar o kitsch como uma “bela mentira”.

Especialmente quando for usado em campanhas eleitorais, que se valem de símbolos patrióticos, com imagens chocantes do povo sofrido, crianças saudáveis, comparadas ao lado de outras socialmente excluídas. Até Hitler, Stalin e Franco utilizaram kitsch políticos para atingir objetivos totalitários.

Em nosso país, o exemplo dessa situação política é o kitsch-cartão, vale tudo. Foi criado em governos anteriores, com a boa intenção, de estímulo à adesão escolar e ao necesssário apoio emergencial às famílias carentes. Hoje é explorado com caráter permanente, com fins eleitoreiros, desestimula o trabalho digno e a ascenção social.

Porém, uma crítica ao aparecimento dos modelos reprodutivos do kitsch em relação aos artísticos surgiu das elites. Consideravam uma afronta da classe média em ascenção, que não aceitava ou não entendia a arte de vanguarda; mas desejava participar do “universo da arte, querendo parecer culta e alcançar status social”. Adquiriu o significado de “falsificação” a partir de 1860.

Todavia, a maior censura veio da análise da cultura de massa. O kitsch foi motivo de muitas críticas por Adorno, Horkheimer, Marcuse e Walter Benjamin da Escola de Frankfurt. Diziam que no kitsch, “a obra de arte perdeu a autenticidade, a aura do iluminismo estético e identificavam sua origem na cultura de massa e na industrialização”.

 Por cultura de massa se entende um fruto do capitalismo e da globalização, visando a industrialização das sociedades. Tem papel centralizador e tornou mais semelhantes  as diferentes culturas dos povos, utilizando os meios de comunicação, como TV, rádio, jornais e revistas e toda e qualquer fonte de informação.

A indústria cultural é direcionada ao consumismo pela comunicação de massa e ambas não podem ser tratadas como coisas distintas. São capazes de atingir um grande número de indivíduos, transmitindo conhecimentos ou alienar as pessoas.

O kitsch surgiu, assim, apoiado pelo gosto da sociedade de consumo da indústria cultural e pelos meios de comunicação de massa, através dos caminhos da globalização. Para Umberto Eco, o kitsch “é quase uma nulidade, não passa de uma citação, incapaz de produzir um contexto novo”.

Roger Scruton, o considerou “uma deficiência emocional, que transforma o ser humano em uma boneca, que num momento cobrimos de beijos e no outro despedaçamos”. E as obras de arte reproduzidas seriam mercadorias da indústria cultural.

Porém, o kitsch não deve ser visto apenas com relação negativa. Pode ser uma solução para problemas sociais. Por exemplo, pneus velhos usados para balanços em parquinhos de escolas públicas, barateam custos e diminuem riscos de choques nas brincadeiras entre crianças.

Para Frascina, “nem um único ítem kitsch é desprovido de valor positivo, ele dá emprego e lucro pra milhões de pessoas”. Abraham Moles, diz que “o kitsch tem função pedagógica importante, constituindo uma passagem obrigatória na educação do gosto popular, conduzindo do falso em direção ao autêntico”. 

Além disso, o kitsch pode ter aspecto criativo, econômico e prático, por exemplo, no carnaval brasileiro que é o maior teatro aberto do mundo. Alumínio imitando prata, materiais reciclados pintados, semelhante a ouro, dão brilho às escolas de samba.

No livro “O Kitsch”, Moles valoriza o caráter multifuncional de um saca rolhas, abridor de latas e de garrafas, em uma única peça. Outros, um mini despertador com função de porta retrato ou uma caneta termômetro em miniatura.

O kitsch citado no início, representado pela imagem de Nossa Senhora Aparecida e na medalhinha encomendada pela comadre, têm importante significado espiritual. A arte sacra desenvolve muita influência positiva, junto ao público destinado, pelos valores atingidos, respeitando a bagagem cultural de cada povo. Em relação à pintura ou escultura, igualmente nem todos podem ter acesso à aquisição de obras de arte autênticas ou visitar grandes museus para vê-las, ao vivo.


Assim, plástico, cerâmica, gesso, impressão gráfica em gravuras originais ou não, tornam possível contemplar Rembrant ou Van Gogh; obras de Gauguin ou o enigmático sorriso da Monalisa; uma réplica da Pietá ou uma escultura de Rodin, ou ainda, uma estatueta reproduzindo “Nascimento de Vênus”, de Botticelli, na sala de estar, contemplando diariamente, mesmo sendo uma cópia e valorizando a genialidade das criações humanas.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Trabalho Social, Assistencialismo e Relatividade Cultural




Os acordes de Bach, vindos da floresta, eram ouvidos dentro do navio no interior do território africano; se tornavam mais audíveis com a proximidade. Quem teria aquela diferenciada preferência num meio de cultura tão diferente do europeu?

Considerado na época, primeiras décadas de 1900, o maior intérprete de Bach na Europa, Albert Schweitzer ficava cada vez mais fascinado pela exímia execução musical. E a sintonia se tornava mais viva com a aproximação.

Parou a embarcação e Albert acompanhado por um grupo de nativos, embrenhou-se na selva, em direção à expressiva manifestação. Era orientado pela diferenciada e cada vez mais intensa musicalidade.

Chegando ao local, um simples casebre, a música cessou, não constatando nenhuma origem do som. Dentro da choupana, um homem gemia de dor. Examinado pelo médico Schweitzer, constatou uma hérnia inguinal estrangulada e imediatamente foi conduzido pro navio-hospital para tratamento cirúrgico.

O médico alemão, também filósofo, músico, professor de Teologia, Albert Schweitzer, interpretou como um chamado divino à urgência no meio da selva. A música seria o único modo de atração à necessidade, num ambiente tão hostil.

 Schweitzer prestou muitos anos de trabalho voluntário no Congo Francês, o Gabão, na África, construiu com a ajuda dos nativos, um hospital na cidade de Lambaréné, atendendo mais de 40 necessitados por dia. Foi laureado em 1952 com o Prêmio Nobel da Paz, e o dinheiro revertido em uma nova instituição hospitalar.

Porém, com toda uma história de dedicação, foi criticado por não melhorar a qualidade de vida dos africanos, preocupando-se “somente com assistência médica”. O trabalho foi visto por alguns como mais um desempenho assistencialista.

O assistencialismo é considerado uma ação social com caráter filantrópico; geralmente se desenvolve em benefício de necessitados em comunidades carentes, por organizações hospitalares ou religiosas, através da doação de medicamentos, alimentos, assistência médica, oferecidos por pessoas ou instituições civis, entretanto, sem transformar a realidade comunitária.

Não incluiremos no texto, a visão do caráter assistencialista e eleitoreira dos cartões vale tudo no Brasil. Não se discute a vantagem da distribuição emergencial às famílias carentes, mas a doação contínua desestimula o desenvolvimento social.  

Para a maioria das religiões, a tônica da caridade se limita à atividade de atenção material, porém, sem conotação de envolvimento na cultura do favorecido. Em nosso país, tivemos muitas personalidades dedicadas ao voluntariado.

Entre os espíritas, é muito divulgado o trabalho social de Bezerra de Menezes, médico cearense nascido em 1831. Político, eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, membro da Academia Imperial de Medicina, foi escritor em vários jornais da época.

Adepto do espiritismo após o lançamento do “Livro dos Espíritos” no Brasil em 1875, iniciou um trabalho de dedicação a carentes, com consultório voltado a clientes que ninguém desejava: os que não dispunham de condições para pagar consultas e medicamentos. Esgotados os recursos materiais, chegou a doar o anel de formatura para compra de remédios dos protegidos.   

Outro grande exemplo de trabalho social no Brasill foi da Irmã Dulce. Nascida em 1914, em Salvador, na Bahia, começou aos 13 anos de idade a vocação filantrópica, atendendo famílias pobres na própria casa dos pais. Formou-se professora e foi ordenada freira aos 20 anos de idade. Dedicou-se principalmente aos operários e doentes recolhidos nas ruas.

Sem local adequado para o atendimento, chegou a improvisar instalação de albergue no galinheiro do Convento Santo Antônio. Deu origem, assim, à criação do Hospital Santo Antônio, um complexo médico, educacional e social que funciona até hoje, voltado para necessitados.

Morreu em 1992, com 77 anos de idade e 64 de dedicação assistencial e religiosa. Beatitificada, a comunidade católica, aguarda ansiosa, a canonização. Os seguidores do “Anjo Bom da Bahia”, como é conhecida, não a vêem só como exemplo de assistencialismo social;  mas de caridade evangélica, salvadora de almas, conforme a visão religiosa católica.

Entre outros, um destaque especial também ao trabalho de Zilda Arns. Médica, pediatra e sanitarista, nascida em Santa Catarina; quando estudante, já desenvolvia trabalho voluntário no Hospital Infantil Cesar Pernetta. A dedicação no atendimento médico conquistou admiradores e, em 1980, foi convidada a coordenar uma campanha de vacinação contra a poliomiete, tornando-se referência no próprio Ministério da Saúde.

Fundou em 1983, a Pastoral da Criança no interior do Paraná, atendendo atualmente mais de 4000 municípios no país. A atenção, especialmente focada em comunidades pobres, começa nas gestantes, identificando situações de risco, orientações quanto à vacinação e aleitamento materno.   

Após o parto, milhares de voluntários acompanham o desenvolvimento das crianças, com tabelas de peso e altura, detectando desvios de nutrição. Umas das principais iniciativas da instituição é o incentivo ao uso precoce do soro caseiro nas diarréias, evitando a desidratação e internamentos hospitalares.

O trabalho estendeu-se além do Brasil, para mais 19 países. Porém, o trágico terremoto do Haiti, em 2010, que lhe abateu a vida no trabalho de expansão, não impediu a continuidade assistencial da entidade.

Os exemplos anônimos se multiplicam aos milhares em todos os cantos do mundo, seja por motivos religiosos ou se tratando de vocação individual. Inúmeros têm características exclusivamente assistencialistas, sem nenhum envolvimento cultural junto aos assistidos.

 Cultura de um povo é tudo o que ele produz, que não é da natureza, compreendendo a forma de agir e pensar, transmitida às gerações seguintes. Cada cultura tem os próprios valores e deve ser respeitada sem preconceitos, ou seja, sem atitudes discriminatórias, que comparam diferentes culturas.

A atitude oposta ao preconceito, denominada relatividade cultural, compreende respeito, estudo da cultura envolvida na pesquisa, no verdadeiro contexto individual, social e histórico. Dalai Lama no conceito de compaixão, torna bem clara a noção de relatividade cultural.

Compaixão é senso de compreensão e não pena do assistido. Nos leva a ver no outro, o mesmo direito que temos à felicidade. Baseia-se na compreensão da igualdade de todos os seres e culturas.

Porém, formas perversas de sociabilidade, produzidas pela globalização, foram vividas com mais intensidade após a Segunda Guerra Mundial. Na realidade, as raízes iniciaram na Rota da Seda e também no Império Romano; da mesma forma, nas descobertas de novos mercados por Portugal e Espanha nos séculos XIV e XV e na Revolução Industrial da Inglaterra no século XVIII.

Todavia, entre tantas vantagens da moderna comunicação imediata da Aldeia Global, no conceito de Mc Luhan, acentuou-se um lado social pernicioso de “salve-se quem puder”. A competitividade se tornou nova lei, as pessoas se afastaram, com distanciamento na aquisição de valores em grupo e da solidariedade.

   Porém, Albert Schweitzer, Bezerra de Menezes, Zilda Arns, Irmã Dulce, Dalai Lama e tantos “Anjos do Bem” anônimos, mostraram um lado humano de muita superioridade moral, que faz acreditar no potencial do homo sapiens.

Prestaram assistência social, chamada ou não de assistencialismo, mas souberam compreender e respeitar a relatividade cultural, sem preconceitos nem etnocentrismo, embuídos do conceito de compaixão de Dalai Lama. Sem pena, mas com respeito e doação, valorizando o contexto individual, social e histórico das comunidades assistidas.     

terça-feira, 13 de maio de 2014

Informação, Comunicação e Ensino



Menos de um século após a fundação por bandeirantes paulistas, em 1776, Lages, no extremo sul da Capitania de São Paulo, já organizava os primeiros grupos teatrais amadores. A Independência do Brasil, em 1822, possibilitou a vinda de vários artistas portugueses pra Corte Brasileira e o estímulo às apresentações cívicas, artísticas e culturais.

A atual região serrana catarinense, pertencia aos limites geográficos daquela Capitania e era estratégica para o gerenciamento dos interesses da Monarquia. Os teatros foram “centros de socialização, onde convergiam trocas de informações de diversas atividades”.

Nativo da região, o lageano era uma mistura de “índio botocudo, negro e europeu”, na descrição do viajante alemão Avé-Lallemant, em 1858. Os rudes tropeiros e os mascates traziam pelos péssimos acessos, pra pequena população, produtos de consumo e mercadorias: jóias, tecidos, calçados europeus, produtos de higiene, revistas e fotografias, bem como valiosas peças teatrais.

Chegou, assim ao nosso meio, a informação da fotografia, inventada nos anos 20 do século XIX, na França, com os trabalhos de Niépce e Daguerre. Foi uma grande descoberta para o registro dos acontecimentos sociais, políticos e militares da humanidade.

A popularização desta arte, na época, deu origem às especulações sobre o “fim da pintura”, inspirando o impressionismo. D. Pedro II, em nosso país, foi considerado um dos maiores fotógrafos, devido à grande paixão pela nova arte.

A partir de 1820, Lages foi anexada ao Estado de Santa Catarina. Os lageanos utilizaram, o material trazido pelos tropeiros e mascates e após três décadas de atividades cênicas regionais, motivados pela uso da fotografia e pelas peças teatrais, edificaram em 1860, a Casa do Teatro. Possibilitaram, assim os mercadores ambulantes, o intercâmbio, de parte da população lageana mais esclarecida, com as novidades de centros maiores.

Porém, uma influência fundamental pro grupo, foi a presença naquela cidade, a partir de 1918, do escritor paulista Paulo Setubal. O autor de tantos livros da história do Império no Brasil, participou e incentivou o grupo cultural de Lages. Por recomendação médica, devido à altitude, veio pra esta cidade, a fim de recuperar-se de tuberculose. Concluiu, na ocasião, o livro Alma Cabocla.

Mas as clássicas fotos posadas, da família inteira reunida nos domingos, novidades da época, começaram a perder significado; foram substituídas pela obrigatória valorização presencial no teatro. Todavia, após 1920, começou no país, uma grande divulgação nas artes: o cinema mudo francês.

E Lages não poderia perder esta grande oportunidade artística. As projeções cinematográficas locais foram acompanhadas por música executada ao vivo pelo alemão Walter Taggsell, membro da seleta comunidade.

Era um acontecimento empolgante para os telespectadores, a sensação de viver a história do filme, executada no teclado. Imprimia nova dimensão, que dava vida às variações do cenário, embalado pela música ao vivo, ecoando no palco a sintonia de vivências humanas.

Porém nas primeiras décadas do século passado, Charles Chaplin na França, ídolo do cinema mudo, também cedeu espaço pra outra modalidade cinematográfica, a sonora. Foi mais uma qualidade artística que perdeu importância social, suplantada pela tecnologia.

O cinema, porém, na época também sofreu os mesmos ataques que hoje são direcionados à televisão. O italiano Luigi Pirandello, amante do teatro, em 1927, o denunciava como uma “falsidade da arte”.

Segundo Marshall McLuhan, autor do conceito de Aldeia Global, um novo veículo de informação e comunicação que está em crise, no momento é a TV, sempre transforma em artísticos os modelos anteriores, como aconteceu com o teatro, a fotografia e o cinema. Quando “uma forma ou gênero da cultura de massa entra em declínio, ela tende a se transformar pelas elites, em arte, pelas camadas superiores”.

Por sua vez, Horkheimer e Adorno, da Escola de Frankfurt, foram os principais pensadores acerca da “comunicação de massa” e da “indústria cultural”.  Ambos os conceitos, de acordo com estes filósofos, “não podem ser tratados como coisas distintas, pois são capazes de atingir um grande número de indivíduos, de transmitir conhecimentos ou de alienar”.

A indústria cultural planeja o consumo das massas atuando no consciente e inconsciente das pessoas. Bombardeia através do rádio, jornais, revistas e outras fontes de informação, que os dois autores chamaram de comunicação de massa.

Através das universidades, a elite leva a cultura às massas, promovendo uma culturalização. Porém, estas não assimilam através dos meios de comunicação a hierarquia dos valores, consumindo com o mesmo significado, intelectuais e seresteiros.

Todavia, também as melhores universidades paulistas caíram nas avaliações de qualidade, segundo publicação recente do Times Higher Education (THE). Qual a leitura que tais resultados podem nos trazer?  

E se as nossas mais expressivas faculdades têm esta avaliação, o que podemos esperar das interioranas? Há mais de vinte anos já éramos a oitava economia do mundo. Hoje, talvez ocupamos o sexto lugar. Como tem sido o investimento em Educação realizado desde então?

Os tigres asiáticos (Hong Kong, Taiwan, Cingapura e Coréia do Sul) investiram muito em Tecnologia e Educação nas décadas de 1980 e 1990. Baratearam custos de produção e agregaram tecnologias aos produtos. Atualmente são grandes exportadores e com ótimos níveis de desenvolvimento econômico e social.

Se o ensino atual em quase todo o mundo está em crise, pior ainda no “país do futebol”, que prefere estádios ao invés de escolas. Os meios de comunicação de massa tornaram ultrapassados os métodos tradicionais de ensino. E a elite cultural brasileira, presente nas universidades, valoriza muito os conhecimentos importados, de segunda mão.

Chegam ao ponto de recomendar que nossas universidades se limitem a transmitir conhecimentos, ao invés de se dedicarem à pesquisa. Têm o mesmo comportamento que caracterizavam, há mais de dois séculos, nossos antepassados lageanos.


Os modernos computadores e outros aparatos tecnológicos substituíram o trabalho dos mascates e tropeiros. Entretanto, os docentes das universidades continuam com atitudes semelhantes às dos ancestrais nativos da região serrana catarinense; valorizam mais a importação cultural e de ensino, repassando informações e conhecimentos já elaborados, vindos da Aldeia Global.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Mídia, Educação e Leitura



O trabalho paciencioso dos monges copistas da Idade Média seguia tranquilo, juntando pedaços de pano e pergaminhos na confecção artesanal de livros. A maior parte dos mosteiros tinha bibliotecas, onde se guardavam os manuscritos.

Copiavam à mão obras religiosas, de filosofia, medicina e autores clássicos. Demoravam anos pra confeccionar um livro. Como eram raros e muito caros, prendiam em correntes para dar maior segurança.

Porém, em meados do século XV, o mundo viveu um dos maiores acontecimentos da história. Chamou mais atenção que o próprio descobrimento da América. Em 1455, Gutenberg, na Alemanha, inventou a imprensa, usando tipos móveis e imprimindo a Bíblia Sagrada em letras góticas.

Estavam abalados, a partir de então, não só a tranqüilidade dos beneditinos, mas a velocidade da informação no mundo. Foi a mais significativa ocorrência no desenvolvimento da vida humana; para muitos cientistas, teve mais impacto que a invenção do automóvel, rádio, cinema, televisão, cinema e internet, pois sem Gutenberg nenhum deles, “quem sabe”, teriam aparecido.

Coma prensa, a informação passou a ter outro significado. No Brasil, a transmissão dos novos acontecimentos, foi bem mais lenta. Após o descobrimento, a repressão portuguesa era intensa, pela riqueza que a grande colônia representava, evitando ensaios de independência.

Enquanto México, Peru e EUA no século XVI já contavam com tipografias, a proibição no Brasil era completa. Em 1746, por exemplo, Antônio Isidoro da Fonseca, transferiu a oficina de Lisboa para o Rio de Janeiro; imprimiu dois textos bem comportados, mas uma Ordem Régia seqüestrou os bens de Isidoro e condenou a deportação pra Portugal.

Porém, em 1808, Dom João VI fugiu pro Brasil, perseguido por Napoleão. Na frota, a nau Medusa trouxe uma tipografia que Lisboa recentemente encomendara de Londres; chegaram assim, finalmente, as condições que dariam início à imprensa brasileira.

Possibilitou naquele ano a produção da Gazeta do Rio de Janeiro; no início, informava apenas ações administrativas e a vida social no Reino. Era a única imprensa permitida no país; mas depois produziu artigos nas áreas científicas, formação da Academia Militar, cursos de Engenharia e romances; foi o embrião do atual Diário Oficial brasileiro.

Infelizmente a colônia dispunha de poucos leitores, devido ao grande índice de analfabetos. As tentativas de tipografia no restante do Brasil, como na Bahia e Pernambuco foram perseguidas e abortadas.

Entretanto de Londres, Hipólito da Costa, futuro Patrono do Jornalismo do Brasil, também em 1808, lançou o Correio Braziliense-Armazém Literário; com oposição doutrinária à Dom João VI, pregava a liberdade, mas sem sangue nem guerra. Na realidade era monarquista e é discutível o papel que desempenhasse contra a escravidão; revolucionário, não no sentido bélico, mas do ponto de vista moral, cultural e social.

Hipólito nasceu na colônia portuguesa, em Sacramento, atual Uruguai, porém, com formação nos EUA, vivenciou naquele país novos conceitos de liberdade. Entretanto, só encontrou em Londres o ambiente ideal pra criticar a orientação administrativa da monarquia brasileira; o Correio Braziliense circulava, em 1808, clandestinamente em nosso meio.
 Dom Pedro I decretou, em 1821, o fim da censura prévia no país e surgiu nesta data o Diário do Rio de janeiro, considerado o primeiro jornal informativo do Brasil. Mesmo assim, Frei Caneca, em 1825, acabou fuzilado em Pernambuco por defender a liberdade de imprensa e o fim da escravidão.

Diferente dos antecessores, Dom Pedro II foi mais liberal e tolerava as publicações republicanas. Com o fim da Monarquia no país, em 1889, estava aberto o caminho pra circulação de outros periódicos.

Vivemos após, períodos de certa liberdade de imprensa, com a criação de vários jornais. Alguns, como o Estado de São Paulo e o Jornal do Brasil, no Rio de janeiro, criados no fim do século XIX, circulam até hoje.

Na década de 20 do século passado, iniciou o período áureo do Jornalismo brasileiro. Os Diários Associados de Assis Chateaubriand formaram um conglomerado inovador. Chegaram a reunir em todo o país 36 jornais, 18 revistas, 36 rádios e 18 emissoras de televisão.

Porém, entre 1934 a 1945, a censura à comunicação tornou-se férrea através do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), durante a ditadura de Getúlio Vargas. Vetou o registro de 420 jornais e de 346 revistas.

 Com o militarismo no Brasil, de 1964 a 1984, novamente os órgãos de comunicação não alinhados ao governo, sofreram também sérias represálias. A edição do Ato Institucional número 2, fez com que o “Jornalismo sério” encolhesse de modo significativo.

A imprensa brasileira, com poucas exceções, priorizou sempre os interesses das elites dos poderes políticos e econômicos na troca de favores. Os objetivos comunitários, porém, foram lembrados quando as pressões populares se tornaram quase insuportáveis.

Assim, se obrigou a ser parceira da sociedade no fim da ditadura, quando os próprios militares começaram a admitir a abertura política. A Folha de São Paulo, encampou o movimento e  publicou um editorial convocando a sociedade para o movimento Diretas Já.  

Na campanha pró Impeachment de Fernando Collor de Mello, os órgãos de comunicação que não aderissem, seriam alvo de discriminação popular. Ninguém poderia “perder a oportunidade de estar com o povo”.

Com o fim dos regimes de exceção, os periódicos nacionais buscaram, a partir de então, modernidade e entraram na fase eletrônica. O Jornal do Brasil foi o primeiro, com a inauguração em 1995 do JB Online.   

Mesmo com todas as conquistas democráticas, tecnológicas e econômicas, nosso jovem país tem patinado em Educação. A deficiência do sistema educacional brasileiro, nos ensinos fundamental e médio se reflete na preparação dos candidatos aos cursos universitários.

Há mais de 20 anos o Brasil já era oitava economia do planeta. Porém, países sem essa distinção, como a Coréia do Sul, perceberam há muito tempo que só com Educação, seriam competitivos. Hoje somos a sétima, quem sabe logo seremos a sexta potência econômica do mundo; mas em Educação, nossos níveis continuam assustadores.

O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) é hoje o principal exame para medir a qualidade da educação no mundo. Os resultados de 2009, sua última edição, mostraram o Brasil em uma situação delicada: no 53º lugar entre 65 países no Pisa.

A Coréia do Sul vive atualmente uma febre educacional. Os alunos sul-coreanos estão entre os melhores do mundo em matemática, ciência e leitura, de acordo com os resultados do Pisa. Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 97% dos estudantes completam o ensino médio - o mais alto percentual entre todos os países pesquisados.

Para que possamos mudar nossos índices, é necessário também uma autêntica democratização nas comunicações; isto  seria possível através do acesso  a valores éticos nos meios de informação, criando condições de reflexão, análise, produção de conhecimento e desenvolvimento do nosso pensamento crítico.        

Torna-se fundamental através uma mídia democratizada, discussões de questões educacionais, ambientais, de moradia, pesquisas científicas, políticas públicas de saúde, dúvidas e esperanças sociais. Infelizmente não é o que acessamos, no cotidiano, pois o que temos atualmente é uma TV com ação social alienadora.

Herbert Blumer, da Escola de Chicago alertou para o perigo do efeito de filmes sobre as crianças e adultos jovens. Revelou que o “cinema ensina estilo de vida, penteados, o modo de beijar e até mesmo como bater carteiras”.

Blumer disse ainda que “o modo que as pessoas vêem os objetos depende do significado destas coisas para elas, e este significado ocorre como um processo de interação social”. Porém, é maligna a exposição diária da telinha alienante e invasora dos lares brasileiros.

Para Vygotsky o desenvolvimento das capacidades humanas ocorre num campo de trocas entre os mundos interno e o externo, construtores da nossa subjetividade. Seria um processo contínuo de intercâmbios transformadores, automoldáveis, resultando num subjetivo mais elaborado; ou seja em melhor conteúdo individual e de maior valor pessoal. Que sistema de trocas podemos esperar de uma mídia não democratizada e alienadora?

Agora, vamos ver alguns dados atuais sobre o Jornalismo no Brasil. Existem cerca de 120 cursos no país, formando em média 5000 profissionais por ano; mas de acordo com a organização Repórteres sem Fronteira, ocupávamos em 2012, a 99° posição no ranking de liberdade de expressão no mundo.

Mesmo sem o regime militar há cinco décadas, nosso país em 2013, foi o terceiro com maior número de mortes de profissionais de imprensa no exercício da função, com sete jornalistas assassinados naquele ano; atrás apenas da Síria, Somália e México, segundo a Campanha Emblema para a Imprensa, entidade com sede em Genebra.

Com a velocidade das publicações, hoje cada vez mais instantâneas, somada à censura de informação e mortes de jornalistas, à intensa ação alienadora da imprensa, que atitudes teriam, Gutenberg, produtor das primeiras Bíblias Sagradas impressas e os pacatos monges copistas, se deparassem com o mundo atual? Santos Dumont não suportou que os aeroplanos inventados com tanto esforço, para fins benéficos, fossem utilizados na ação destruidora da guerra. Respondeu com suicídio.

Não sendo tão pessimistas, lembramos escritores como Cervantes, que após 400 anos, que ainda é citado como otimista. Disse que, como o personagem Dom Quixote, sonhava com o que existia de mais sensato no ser humano e acreditava que isto poderia ser melhor explorado e realizado.

Igualmente, o imortal Monteiro Lobato, autor de tantos livros educativos infantis, deixou considerações sobre o futuro da raça humana; porém, desde que existissem condições de igualdade em todos os sentidos.  Numa metáfora de significado social, dizia, “quem tem força, abusa do menos favorecido e só haverá paz no mundo, quando todos os países tiverem armas iguais, ou seja, quando todos tiverem bombas atômicas”.

                 Isso só seria possível, quando todos tivermos acesso à Educação, em condições igualitárias, utilizando os recursos proporcionados por Gutenberg, na paciente construção individual pela leitura, como monges beneditinos; com a colaboração de uma mídia democratizada e não alienadora, na formação de subjetivos mais bem informados, que possam ser também transformadores da sociedade.