terça-feira, 13 de maio de 2014

Informação, Comunicação e Ensino



Menos de um século após a fundação por bandeirantes paulistas, em 1776, Lages, no extremo sul da Capitania de São Paulo, já organizava os primeiros grupos teatrais amadores. A Independência do Brasil, em 1822, possibilitou a vinda de vários artistas portugueses pra Corte Brasileira e o estímulo às apresentações cívicas, artísticas e culturais.

A atual região serrana catarinense, pertencia aos limites geográficos daquela Capitania e era estratégica para o gerenciamento dos interesses da Monarquia. Os teatros foram “centros de socialização, onde convergiam trocas de informações de diversas atividades”.

Nativo da região, o lageano era uma mistura de “índio botocudo, negro e europeu”, na descrição do viajante alemão Avé-Lallemant, em 1858. Os rudes tropeiros e os mascates traziam pelos péssimos acessos, pra pequena população, produtos de consumo e mercadorias: jóias, tecidos, calçados europeus, produtos de higiene, revistas e fotografias, bem como valiosas peças teatrais.

Chegou, assim ao nosso meio, a informação da fotografia, inventada nos anos 20 do século XIX, na França, com os trabalhos de Niépce e Daguerre. Foi uma grande descoberta para o registro dos acontecimentos sociais, políticos e militares da humanidade.

A popularização desta arte, na época, deu origem às especulações sobre o “fim da pintura”, inspirando o impressionismo. D. Pedro II, em nosso país, foi considerado um dos maiores fotógrafos, devido à grande paixão pela nova arte.

A partir de 1820, Lages foi anexada ao Estado de Santa Catarina. Os lageanos utilizaram, o material trazido pelos tropeiros e mascates e após três décadas de atividades cênicas regionais, motivados pela uso da fotografia e pelas peças teatrais, edificaram em 1860, a Casa do Teatro. Possibilitaram, assim os mercadores ambulantes, o intercâmbio, de parte da população lageana mais esclarecida, com as novidades de centros maiores.

Porém, uma influência fundamental pro grupo, foi a presença naquela cidade, a partir de 1918, do escritor paulista Paulo Setubal. O autor de tantos livros da história do Império no Brasil, participou e incentivou o grupo cultural de Lages. Por recomendação médica, devido à altitude, veio pra esta cidade, a fim de recuperar-se de tuberculose. Concluiu, na ocasião, o livro Alma Cabocla.

Mas as clássicas fotos posadas, da família inteira reunida nos domingos, novidades da época, começaram a perder significado; foram substituídas pela obrigatória valorização presencial no teatro. Todavia, após 1920, começou no país, uma grande divulgação nas artes: o cinema mudo francês.

E Lages não poderia perder esta grande oportunidade artística. As projeções cinematográficas locais foram acompanhadas por música executada ao vivo pelo alemão Walter Taggsell, membro da seleta comunidade.

Era um acontecimento empolgante para os telespectadores, a sensação de viver a história do filme, executada no teclado. Imprimia nova dimensão, que dava vida às variações do cenário, embalado pela música ao vivo, ecoando no palco a sintonia de vivências humanas.

Porém nas primeiras décadas do século passado, Charles Chaplin na França, ídolo do cinema mudo, também cedeu espaço pra outra modalidade cinematográfica, a sonora. Foi mais uma qualidade artística que perdeu importância social, suplantada pela tecnologia.

O cinema, porém, na época também sofreu os mesmos ataques que hoje são direcionados à televisão. O italiano Luigi Pirandello, amante do teatro, em 1927, o denunciava como uma “falsidade da arte”.

Segundo Marshall McLuhan, autor do conceito de Aldeia Global, um novo veículo de informação e comunicação que está em crise, no momento é a TV, sempre transforma em artísticos os modelos anteriores, como aconteceu com o teatro, a fotografia e o cinema. Quando “uma forma ou gênero da cultura de massa entra em declínio, ela tende a se transformar pelas elites, em arte, pelas camadas superiores”.

Por sua vez, Horkheimer e Adorno, da Escola de Frankfurt, foram os principais pensadores acerca da “comunicação de massa” e da “indústria cultural”.  Ambos os conceitos, de acordo com estes filósofos, “não podem ser tratados como coisas distintas, pois são capazes de atingir um grande número de indivíduos, de transmitir conhecimentos ou de alienar”.

A indústria cultural planeja o consumo das massas atuando no consciente e inconsciente das pessoas. Bombardeia através do rádio, jornais, revistas e outras fontes de informação, que os dois autores chamaram de comunicação de massa.

Através das universidades, a elite leva a cultura às massas, promovendo uma culturalização. Porém, estas não assimilam através dos meios de comunicação a hierarquia dos valores, consumindo com o mesmo significado, intelectuais e seresteiros.

Todavia, também as melhores universidades paulistas caíram nas avaliações de qualidade, segundo publicação recente do Times Higher Education (THE). Qual a leitura que tais resultados podem nos trazer?  

E se as nossas mais expressivas faculdades têm esta avaliação, o que podemos esperar das interioranas? Há mais de vinte anos já éramos a oitava economia do mundo. Hoje, talvez ocupamos o sexto lugar. Como tem sido o investimento em Educação realizado desde então?

Os tigres asiáticos (Hong Kong, Taiwan, Cingapura e Coréia do Sul) investiram muito em Tecnologia e Educação nas décadas de 1980 e 1990. Baratearam custos de produção e agregaram tecnologias aos produtos. Atualmente são grandes exportadores e com ótimos níveis de desenvolvimento econômico e social.

Se o ensino atual em quase todo o mundo está em crise, pior ainda no “país do futebol”, que prefere estádios ao invés de escolas. Os meios de comunicação de massa tornaram ultrapassados os métodos tradicionais de ensino. E a elite cultural brasileira, presente nas universidades, valoriza muito os conhecimentos importados, de segunda mão.

Chegam ao ponto de recomendar que nossas universidades se limitem a transmitir conhecimentos, ao invés de se dedicarem à pesquisa. Têm o mesmo comportamento que caracterizavam, há mais de dois séculos, nossos antepassados lageanos.


Os modernos computadores e outros aparatos tecnológicos substituíram o trabalho dos mascates e tropeiros. Entretanto, os docentes das universidades continuam com atitudes semelhantes às dos ancestrais nativos da região serrana catarinense; valorizam mais a importação cultural e de ensino, repassando informações e conhecimentos já elaborados, vindos da Aldeia Global.