Jogos de luzes, símbolos de
diversos e amplos significados. Tradução de conteúdos diferenciados, isolados
ou associados. Definem estados de espírito, com ou sem esperança, esbarrando na
paz e harmonia, alcançando o amor e a paixão.
Podem expressar antônimos como solidão,
alegria, serenidade e agressividade. Ou sentenciam a espiritualidade, erotismo,
guerra, saúde e morte. Estimulam fome e rejeição, determinando também a parada
obrigatória. Sugerem desde tristeza à euforia, aparência pessoal ilusória e
orientação política desejada pelos governantes.
Vamos decompor a valorização das Cores em quatro etapas sucessivas desde
que foram percebidas pelo ser humano: primeiro isoladamente, em seguida nas
artes da Idade Média, após em interpretações bíblicas e na última análise, nos
significados daltônicos.
Diferentes lobos cerebrais são
sensibilizados por apelos coloridos. Amarelo,
sinalização de alerta, avança com velocidade à retina e pode dificultar a
leitura. Projeção de santificada luminosidade, irradia misticismo.
Verde da serena tranquilidade, harmoniosa sintonia das cordas de
violinos e dos campos da Primavera. Tingem os vegetais, antes mesmo que o homem
pisasse no planeta. Chegou primeiro para garantir o bem estar, tonificando o
sistema nervoso.
Perigo iminente, eufórico e
agressivo, o Vermelho erotiza no
bailado voluptuoso. Conquista o homem, moldando o corpo da mulher sensual. Dança
erótica, atrai à luxúria feminina. Cor do sangue, luta, guerra e da pimenta
exótica, alerta também à parada obrigatória. Sinal de recente ferida à mostra,
ao mesmo tempo registra apelos de agressividade e sensualidade.
No polo oposto, o erotismo masculino
é representado no místico Roxo/Lilás.
Esotérico, com autocontrole e seguro de si, seduz a doçura e meiguice do sexo
oposto. Expressa virilidade com ritmo romântico, criativo, inovador na arte e
cultura.
Com embalo alegre, jovem,
humorado, o Laranja traz euforia e
vivacidade. Exala criatividade e ambição (significado extensivo também às
conquistas humanas positivas). Tinge a beleza do pôr do Sol, retornando com viva
esperança na aurora seguinte.
No ritmo tranquilo da meditação,
o Azul é a Cor do equilíbrio. Sedativo, está presente nas emanações fluídicas
de cura. Serena manifestação do infinito, o astronauta russo Iuri Gagarin
emocionou o mundo na primeira ampla visão do espaço sideral, com o relato: “A
Terra é Azul. Como é maravilhosa! Ela
é incrível !”. Trouxe mais esperanças ao conturbado planeta, pois é a Cor da sintonia dos pensadores e
altruístas.
Símbolo universal da paz
mundial, o Branco é a soma de todas
as Cores. Reúne os efeitos luminosos
globais em seu conteúdo. Transmite mensagens de limpeza, higiene, porém por somatório
de complexo colorido é irritante ao sistema nervoso. Nos hospitais poderia ser
substituído com vantagens pelo Verde
ou Azul.
Ausência de luz ou Cor, o Preto transmite nos funerais o significado final da etapa física.
Usado nos trajes sóbrios, combina com quase todas os matizes. É recurso
estético feminino para diminuir sinais aparentes vantajosas silhuetas.
Outros objetivos são conhecidos
nas associações das Cores. Vermelho e Amarelo, juntos despertam apetite, usados sabiamente por uma empresa
de Fast Food. O último, colado ao Verde no
maior símbolo nacional, a bandeira, sente a falta do Amor, na Ordem e
Progresso, esquecido no trio da homenagem Positivista.
Na visão seguinte, entrando na
Idade Média, as Cores se associaram à
religião e à educação na evolução das artes. Desde o Bizantino ao Gótico,
passando pelo Românico, dos séculos V
ao XV, dançaram nas mãos artísticas dos mestres da pintura, escultura e
arquitetura.
O conceito de belo da natureza
humana amadureceu no acompanhamento colorido. Na arte Bizantina, a influência grega, romana e oriental deixaram os
registros no clero da Itália e em Constantinopla. O mosaico, maior expressão da
arte daquela época, decorou paredes e abóbadas sacras; com motivos bíblicos e
forte Dourado, valorizava bens
espirituais e materiais (como o ouro) e o Vermelho
vivo da Trindade
.
Arquitetura Bizantina foi destaque, com participação
cristã e grega, em cúpulas muito elevadas como na Basílica de Santa Sofia em
Constantinopla. Abóboda com alta projeção transmitiam nas Cores, sentimentos de universalidade e poder.
Na arte Românica, a tônica foi o colorido vivo dos temas bíblicos em
afrescos e interior de igrejas; escultura, arquitetura religiosa e de castelos,
não teriam misticismo sem tonalidades do jogo das Cores. Europa ocidental reúne esta etapa evolutiva do belo com o
renascimento da escultura, mas valorizada com matizes fortes e vivos.
Catedrais Góticas, com arcos e vitrais, na França e norte da Europa, assumem
com sucessivas integrações de outros países, um estilo Gótico universal. Uma amostra é a presença na América Latina,
expressa há quase um século na Catedral de Lages, SC, em Neogótico. Construída com blocos de pedra arenito, uma das mais
belas do modelo no Brasil, com vitrais coloridos luminosos semelhantes aos
europeus.
A arquitetura Gótica fez surgir o interesse mágico das
luzes, expresso no auge das vidraças de Cores
com temas bíblicos. Além dos templos do
clero, o estilo se universalizou e o belo invadiu sisudas construções
universitárias. O casamento dos jogos luminosos com a pintura da época, iniciou
em Florença e Siena, na Itália. A noção de perspectiva e uma escultura mais
natural fascinaram o mundo desde aquele período.
Numa terceira análise das Cores, a maior polêmica está nas
interpretações de textos bíblicos. A beleza das tonalidades seria ofuscada pelas
representatividades religiosas. No
Apocalipse, matizes dos quatro cavaleiros dão margem a inúmeras considerações.
As Cores até agora concebidas como belas
e mágicas, tiveram diferentes olhares humanos.
O primeiro cavaleiro se
apresentou com arco, coroa e máscara. Simbolizaria, em diferentes conceitos, o
Anticristo dominador, a falsa religião. O cavalo Branco, seria aqui expressão de enganosa inocência e paz
disfarçada, que excede todo o entendimento.
É sucedido por segunda
personagem portando espada com objetivo de guerra e destruição. Montado num
cavalo Vermelho, simbolizando derrame
de sangue em campos de batalhas e assassinatos. Lembraria segundo outros, luxúria,
terrorismo, chacina e aborto.
Trazendo uma balança com pratos
em diferentes níveis, o terceiro cavaleiro, pode sugerir má distribuição de
alimentos, resultante das guerras. Para alguns seria símbolo de injustiça
social ou manipulada. Este cavalo, Preto,
cor da escuridão, noite sem luar ou ainda peste e maldição. Para outros expressaria
capitalismo injusto, neoliberalismo e a globalização.
A cavalaria concluiu com o Verde pálido, dos cadáveres exangues, corpos em decomposição. Representaria,
este quarto cavaleiro, final da guerra, chacina, resultado da ação demoníaca
anterior. Interpretado por alguns como destruição de Jerusalém, para outros, as
perseguições romanas. Este último representante satânico portava tridente, possível
presságio de guerra mundial química ou nuclear.
Finalizando as observações, os
cegos estariam livres da dantesca visão? Seriam também os daltônicos poupados da
aparição tenebrosa dos cavaleiros Vermelho
e Verde pálido, representativos
do sangue e putrefação cadavérica? Tolerantes desde o aprendizado escolar e até
diante dos nervosos sinais nos semáforos, seriam finalmente compensados no
Apocalipse, vendo apenas cavalos Branco
e Preto, menos fantasmagóricos... A
desgraça final seria atenuada pela diminuição de pigmentos fotorreceptores.
Como a vaidade humana do daltônico
aceita a alteração visual colorida do Vermelho/Verde?
De que modo emoções feminina/masculina administram a privação do visual
associativo? Que sentimento frustrado devem sentir pela falta de percepção do padrão,
naquele vestido Vermelho colado, da
mesma Cor do batom!
Qual a maneira que o daltônico valoriza
a expressão artística? Feliz quem vê o real colorido e mergulha nas artes Românica, Bizantina, Gótica e na comunicação
dos gênios Renascentistas: Da Vinci,
Botticelli, Rafael e Michelangelo imortalizaram obras na escultura e na dança
das luzes.